por Roberta Oliveira Lima

* Texto escrito originalmente em 30 de setembro de 2010 e livremente inspirado no best-seller evangélico: ‘Em seus passos o que faria Jesus?”
Confesso que passei este período eleitoral quase que inteiramente evitando tocar no ponto nevrálgico chamado política…confesso que tentei, mas não consegui! Foi mais forte do que eu e preciso expressar em poucas (se possível) e neutras linhas (será possível?) um pouco do que vislumbram meus olhos e meu coração.
Ouvi alguém dizer que para política, religião e futebol não é necessário utilizar a razão e sim a paixão. Será mesmo?
Em relação à questão religiosa já ensaiei outros escritos, quanto à questão futebolística me divirto muito, adoro implicar com qualquer um que não seja “do meu time”, adoro deixar alguns ardorosos torcedores irritados e nervosos (sim, às vezes eu provoco além da medida – sou ré confessa dessa prática), mas quanto à política, realmente me sinto pisando em ovos.
Creio que podemos e devemos ser pessoas informadas, a alienação é um dos grandes causadores desse caos que hoje chamamos de política partidária em nosso país.
Já disse Platão:
“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política. Simplesmente serão governados por aqueles que gostam.”
Em meio a essa corrida insana dos últimos dias de campanha eleitoral, vendo pastores utilizando suas ovelhas como massa de manobra e curral eleitoral, vendo a demonização de um único partido, enfim, vendo tanto lixo e mentira sendo dita e defendida em nome Dele, deparei-me com a seguinte questão: o que Jesus faria como eleitor brasileiro, em quem votaria?
Comecei a divagar sobre o tema, com medo de me aprofundar, com medo de também demonizar, com medo de escrever muita besteira (talvez cometa todos esses erros, afinal de contas, o texto ainda não chegou ao fim…)
Tentarei ir ao cerne da questão: como Jesus se comportaria numa eleição? Você pode argumentar: “ – Roberta, não há como saber! Cristo não vivenciou um regime democrático.” Sim, isto é fato público e notório. Ele viveu em meio ao domínio do Império Romano.
Temos, então, uma questão a ser debatida: Jesus vivia debaixo do domínio político e econômico de Roma, os primeiros cristãos também viveram tal domínio e, sejamos francos, já ouve em toda história maior iniquidade institucionalizada do que o deslumbrante e cruel Império Romano? Aquilo que dizem que acontecerá em nosso país, caso o partido “X” se perpetue no poder seria fichinha diante daquilo vivenciado por Cristo e seus discípulos.
Me pergunto e te pergunto: O evangelho deixou de florescer? Os planos de Deus foram frustrados poque “A” ou “B” estavam governando?
Parece uma interrogação simplista e que leva a um comportamento alienante, mas, na verdade, quero deixar explícito que o cerne da nossa fé não deve estar baseado em quem está governando, pois o poder está na verdade do evangelho (Epístola de Paulo aos Romanos, capítulo 1 e verso 16) e não em nenhuma estrutura humana. Muitas vezes a intervenção do homem é mais maléfica do que benéfica, que nos diga o “apoio” de Constantino instituindo o cristianismo como religião oficial do Império Romano, e introduzindo tantas deturpações na essência do caminhar cristão.
Ouso questionar: será a intenção de alguns transformar o país num grande gueto gospel? Será essa a razão dessa caça às bruxas sem muita reflexão e seriedade?
Não vejo Jesus incitando seus seguidores a tomarem pontos estratégicos de poder no governo de sua época, não que isso seja pecado ou proibido, podemos e devemos ocupar lugares de projeção nos mais diversos setores da sociedade, desde que sejamos vocacionados para tal projeto e não com o intuito de praticar proselitismo e defender interesses de uma parcela da população.
Pelo pouco que compreendo da mensagem do evangelho: o Reino deve ser anunciado a qualquer pessoa: “que venha o Teu Reino” (Evangelho de Lucas, capítulo 11, verso 2), assim Jesus nos ensinou. Que venha o Reino que é Dele e que também é nosso sobre os mais variados setores de nossas vidas e sociedade.
Por fim, volto à pergunta inicial: em seus passos, em quem votaria Jesus?
Sinceramente, não ouso dizer a você sobre seu próprio voto, apenas posso afirmar com convicção que o Jesus com o qual caminho e a quem busco conhecer diariamente respeita a individualidade e nos deu uma palavra que é lâmpada para os nossos pés e luz para o nosso caminho (Livro dos Salmos, capítulo 119, versículo 105). Além disso, Suas palavras são de que estaria conosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Evangelho de Mateus, capítulo 28, verso 20) e isto inclui dias de eleições também.
Tendo Jesus como companhia, sua palavra como guia e a verdade como padrão, creio que estou habilitada a fazer escolhas sensatas e longe de falsos delírios persecutórios elaborados por quem lucra com o pânico moral e a sinceridade de irmãos e irmãs de boa-fé.
ROBERTA OLIVEIRA LIMA é Doutora em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense – UFF. Mestre em Gestão de Políticas Públicas pela UNIVALI. Graduada em Direito. Licenciada em Ciências Sociais. Coordenadora do grupo de Pesquisa “Sustentabilidade, Direitos Humanos e Transnacionalidade”. Membro da APRODAB – Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil. Membro da ABRASCO – Associação Brasileira de Saúde Coletiva é Membro da ABA – Associação Brasileira de Agroecologia. Colunista da Revista Eletrônica Caos Filosófico. Professora de Direito Ambiental, Direito Internacional, Direitos Humanos, Sociologia Geral e Jurídica. Advogada
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