ARTIGOS

Ainda dá pra se relacionar na era do amor líquido?

por Gladis de Fátima Piccini

Negócio complicado esse de relacionamento né? Afinal, a gente precisa de outra pessoa para fazer um casal, o que significa  ser dois. Dois gostos, duas escolhas, dois jeitos, duas personalidades e, via de regra, uma casa, uma cama, umas férias e meio caminho para a felicidade quando o banheiro da casa é filho gêmeo.

Pois é, logo ali, atrás de um casal, existem duas pessoas. Pessoas diferentes. Porém,  é mais complicado que isso, porque é preciso semelhanças entre os diferentes, ou seja, algumas coisas precisam se compatibilizar, mas não vá pensando que é qualquer coisa, como ambos gostarem de chuchu, embora seja algo raro. Não! Falo daquilo sem o qual a vida fica difícil para um, quando o outro é radicalmente o contrário.

Quer ver?  O fissurado por exercício físico e comida saudável não conseguirá conviver com o fissurado por comida (qualquer que seja, a hora que seja, de preferência um bom fast-food) É só um gosto por comida? Não é não, é um modo de vida.

Alguém deve estar pensando:

– Ah, isso não acontece.   

Acontece sim,  porque nós somos pródigos em esconder gostos, jeitos e preferências quando estamos apaixonados. Melhor dizendo, nosso cérebro, que perde completamente a razão quando apaixonado. Depois, na retomada gradual da sanidade, as incompatibilidades nos encontram na esquina.

Olha, não pensem que isso é um manifesto anti-amor. Não é.

Dizem que a gente ama apesar de, e não porque.

Então, se eu durmo cedo e acordo cedo enquanto o outro vaga durante a madrugada e sequer pisca antes do meio dia, o que fazer?
                     

Se esforcem aí ué!

Um aguenta até a meia noite acordado. O outro dá um jeito de dormir à uma da madrugada, e acordem para caminhar às dez horas. Hora razoável, não compartilhada pelos galos, ou pelo sol escaldante do meio dia .

E quem gosta de som alto o dia inteiro, como faz com o outro que não suporta o barulho do gelo sendo mexido na gaveta da geladeira?

Aumenta um pouco, diminui um pouco. Dá para conciliar, desde que se goste do mesmo tipo de música. Nem vou fazer comparações para evitar preconceito.

É preciso gostar de música viu?

E se gostar de cinema, teatro, ópera, dança, que importa o resto ?

Ahhhh, mas a vida exige outras coisas. Sim, exige. Quem é mais apto faz. O outro colabora com a presença e com a disponibilidade. Algo como:

–  Estou aqui viu?

Sempre será preciso companheirismo, participação e aceitação. Ela quer fazer um cochilo no sofá e não na cama. E daí? Ele quer dormir com a camiseta que não é pijama, well, compre camisetas mais seguidamente. 

Se a pessoa for bom caráter, não perverso, porque esse não tem jeito,  e aceitar essas esquisitices todas tuas (mas dá a ela o direito de discordar tá ?) ela te ama.           

Então, conclusão, um ama de um jeito e o outro de outro. Um diz a todo momento eu te amo, o outro cuida, ajuda, organiza.

Amar é …. Muitas coisas, nem sempre aquilo que eu acho que é.

Indispensável mesmo é amor próprio.

GLADIS DE FÁTIMA PICCINI é juíza aposentada pelo TJRS

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3 respostas »

  1. Síntese perfeita amiga do que é um relacionamento de casal! Difícil às vezes!!! Me senti personagem do texto. Incrível a leveza e ao mesmo tempo firmeza das tuas palavras. Parabéns! Simplesmente adorei!

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  2. Por essas e outras, ser solteiro, não tem preço. Assim como parecer assexual, mas quando estava trabalhando e final de carreira, colocado como “sindico”: saindo por último e permanente no setor (sair só para ir ao banheiro), fui generoso com um dos trintoes do setor ao lado: sexualidade fluída e depois ele ia para residência dele (não tínhamos cotidiano doméstico): ai é maravilhoso! Muitas pessoas idealizam dormir e acordar junto, mas quando isso acontece acaba faltando aquela conversa “esquenta” de preliminar e o casal só pensa em boleto, toalha estendida no box pos banho para secar, supermercado, ou seja, “rotina em dobro”!

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