por Renato Kress

Nada mais confortável do que julgar.
Para julgar você naturalmente se coloca acima. E que sensação maravilhosa julgar-se superior, rei ou rainha da cocada preta, reizinho ou rainhazinha! Está lá você, no útero almofadado das suas certezas apontando seu divino dedo.
Julgar te dá a sensação de superioridade total! Aquela criada pela junção das pretensões de superioridade intelectual, moral, ontológica(*), afetiva e existencial.
Julgar te distancia, segrega o que você considera “errado” e mantém por perto só o espelho, o triunfo máximo do narcisismo infantil.
Aquele rótulo enfiado goela abaixo no outro, aquele sem direito a resposta, o bem lacrante sabe? Ele nos absolve emocionalmente. Abre caminho para a intolerância, o ódio, o preconceito, a violência, a segregação e tudo isso chega inflando, inflando como um balão do tamanho do Sol esse ego tão carente de validação e aceitação que mora no íntimo de quem vive para julgar.
Julgar é fácil. É cômodo. É simples. É rápido. E o melhor: é grátis!
Dispensa o raciocínio profundo em prol de qualquer afetação emocional momentânea.
Mas também dispensa a emoção intensa em prol de um raciocínio superficial binário que elimina a riqueza e complexidade da vida.
Julgar é simples. É imediato. É constante e automático!
É um bom retrato da moda do que se espera de uma sociedade cada vez mais infantil e apressada. Desse mix de coelhos da Alice com pretensões de Peter-Pan.
Julgue mais. Seja menos. Segregue. Afaste. Isole-se. E, quando estiver bem isolado e amedrontado, sozinho e encastelado, aí então, meu querido julgador mimado, obedeça serelepe ao mestre-mito-mercado: consuma!
RENATO KRESS é cientista político e antropólogo
(*) Superioridade ontológica quer dizer que o seu próprio ser é superior ao mundo! É estrela que primeira grandeza perto do pó existencial que te rodeia, raiz de todas as raízes! Fada sensata da galáxia.
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