ARTIGOS

Formação na era da informação

por Pollyana Ribeiro

Basta olhar para um passado próximo que nos deparamos com questionamentos a respeito dos rumos da educação com o advento da tecnologia – de como seria a educação do futuro, do que poderia ser agregado através da automatização das avaliações, que foram reinventando as práticas escolares e, sobretudo, suscitou a a possibilidade de superar a necessidade do professor no processo de ensino aprendizagem.

É inegável que a ascensão tecnológica modificou a realidade social no que tange às relações humanas, encurtou milhares de quilômetros em centímetros – quem estava distante, agora pode estar perto através de chamadas de vídeo em tempo real, pessoas do mundo todo se conectam simultaneamente ao vivo, da mesma forma, as notícias que demoravam até meses para chegar, chegam à nós em questão de segundos, mesmo quando o ocorrido tenha se dado do outro lado do planeta: o mundo virtual propiciou a extensão dos nossos campos visuais.

Esse acesso fácil e descomprometido com o maior número de informações levantou indícios de que a nossa geração aprenderia com mais facilidade que as demais. 

Desse cenário, conjecturou-se a falácia de que o acesso à informação seria suficiente no processo de aprendizagem, levantando diversas afirmações no sentido de que não existiriam escussas da falta de conhecimento às pessoas que têm acesso às informações.

Nesse sentido,  precisamos reafirmar o que parece óbvio, isto é, o fato de que a aprendizagem é um processo ativo, portanto, informação e conhecimento são coisas distintas. Em nosso cotidiano, acessamos as redes de comunicação e nos deparamos com um número exorbitante de informações diversas, informamo-nos sobre o preço atual do dólar, um novo caso de corrupção, dicas de emagrecimento rápido, receitas de bolo e afins.

A questão primordial é: um emaranhado de informações desconexas não resultam em aprendizagem, ler um dicionário de inglês não o torna torna um falante da língua, assim como ter acesso a diversas receitas não o torna em um bom cozinheiro. Isso porque aprender exige uma relação íntima entre o sujeito cognoscente e o objeto cognoscível [1]. O sujeito por sua vez, pode aprender de duas formas: através da descoberta ou através do ensino.

Ao chegar na compreensão de que a aprendizagem não é inata ou natural, as instituições de ensino foram desenvolvendo meios de ampliar a capacidade de ensino de tal forma que fosse possível ensinar tudo a todos, como propôs Comenios em Didática Magna [2].

O ensino possibilitou que as grandes descobertas fossem apreendidas sem a necessidade de sua repetição – não precisamos redescobrir a eletricidade para abastecer as cidades com energia elétrica, ao contrário disso, podemos avançar em produção científica com base no que foi feito a priori, o que nos permite observar que atualmente a maior fonte de aprendizagem tem sido o ensino.

Chegando nessa compreensão, é possível reiterar o compêndio de pesquisas e constatações feitas na área pedagógica e, assim, alinhar o nosso olhar para a relação entre tecnologia e aprendizagem.

O momento em que estamos vivendo de uma pandemia, traçou realidades inimagináveis, isolados em nossas casas e com acesso às redes, constatamos de maneira empírica que apenas informações não formam. Vigostiski  observou que a socialização é um componente chave na aprendizagem, isto é, eu aprendo com o outro, e mais, aprendo na relação com o outro, pois a aprendizagem é uma experiência social, ainda que mediada por outros instrumentos e signos, conforme os conceitos utilizados pelo autor [3].

Acessar esse conhecimento passa pelo crivo da interação humana no qual o sujeito aprende a aprender, de tal forma que, a cada novo homem, as instituições educacionais repetem o processo de treinar os sentidos para criar atenção para o objeto cognoscível, superando nosso estado de desatenção. Ao estudar, aprendemos com o outro formas de exercitar as capacidades mentais para criar hábitos que remontam nossa capacidade de desligar do externo e conectar o fluxo interno.

Levando em consideração esses aspectos, a ação docente e as instituições de ensino mantém seu lugar de supremacia no processo de ensino aprendizagem. A tecnologia e o fácil acesso a informação podem ter seu lugar, mas ele não supre o fator humano, considerando que apenas informar não é formar. Cabe ressaltar que muito pode ser feito para aprimorar as práticas docentes e que há uma necessidade de enriquecer essas práticas através de facilitadores tecnológicos, o que não podemos perder de vista é – antes de criar facilitadores, devemos formar aqueles que os usam. 

POLLYANA RIBEIRO é pedagoga pela Universidade Federal de Goiás (UFG).

NOTAS

[1] Sobre a relação sujeito/objeto ver, CHAUÍ, Marilena. Primeira Filosofia. In: CHAUÍ, Marilena et al. Filosofia primeira: lições introdutórias. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 60-81.

[2] Referência ao pai da didática, COMÉNIO, João Amós. Didáctica Magna: tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. Tradução de Joaquim Ferreira Gomes. Edição da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1957.

[3] A respeito da teoria da aprendizagem ver, VYGOTSKY, Lev. S. Aprendizagem e desenvolvimento na Idade Escolar. In: Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. Vigostky, L. Luria, A. Leontiev, A.N. 11ª. Edição. São Paulo: Ícone, 2010,

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1 resposta »

  1. Conhecimento vem do processamento de informações, por nosso cérebro. Conhecimento vem da consolidação de associação de ideias e experimentação de possibilidades, aprimoramento de técnicas e capacidade de análise ao longo do tempo.

    Por isso, não à toa, que “ninguém nasce sabendo”. Não obstante crianças já cresçam expostas a uma avalanche de dados, elas não sabem o que fazer com eles (se não “aprenderem a aprender”).

    Para mim, a Epistemologia e a Metodologia deveriam ser disciplinas escolares desde o Ginásio, no mínimo.

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