por Paulo Ferrareze Filho

No aforismo “Sobre a psicologia do artista” de Crepúsculo dos ídolos, Nietzsche escreve: “para haver arte, para haver alguma atividade e contemplação estética, é indispensável uma precondição fisiológica: a embriaguez.”
A suscetibilidade da máquina humana para criar – inclusive novas formas de um plágio capaz de ser, novamente, arte – é elevada à potencialidades com essa embriaguez que definitivamente não é metafísica…!
A embriaguez de mãos e mentes terrenais deve se ocupar de fazer uma fotografia de um experimento que sabe cravar-se à terra, já que usa, sem licença, cores que só a terra pode dar para a eternidade que ali se dá, materializada, na obra.
Entre sábios, sábias e sabias de todos tempos e eras, sempre houve essa polarização: os que se embriagam para a alimentar a ilusão de descer à aos infernos e os que se embriagam para alimentar a ilusão de subir aos céus…
Assim como há metafísica bastante em não pensar em nada, como já disse Fernando Pessoa, esse poeta demasiado nietzschiano, também há de haver metafísica bastante numa tela branca ou numa folha em branco que a Terra nos dá…
Ver o que há em cada um – e isso é a graça de ter olhos para encarar a paz. Ver ali o nervo exposto, o coração pulsando num tórax aberto com fórceps, é uma precondição do artista.
Ali pulsando, animus, o coração. Aquele que faz vida, que faz corpo em terra pulsar. Que faz pulsar a embriaguez em cada um.
Por meio deste arrazoado cordial vimos requerer a manutenção amorosa de todos os terrenais que fornecem as substâncias tóxicas da embriaguez dos artistas. Tratem eles com humanidade, exatamente como fazem com reses que não morrem com pânico para que não se lhes endureça a carne.
PAULO FERRAREZE FILHO é professor universitário e psicanalista em formação
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