por Tales Ab’Sáber

Acho um problema críticas da violência do mundo que aderem a dispositivos culturais que são próprios da violência.

Ser reprodutor da estética da ostentação dos hiper milionários não é exatamente um mérito crítico.

Qualquer retorno às raizes que seja elogio do poder do dinheiro é uma reafirmação do poder do dinheiro no mundo.

E o Capital é para a vida e para os povos o que ele sempre foi. Faz todo o sentido que os americanos não compreendam mais o que é o sentido profundo desta contradição.

Brilhos, luxos e exposição de poder não são formas ingênuas. Existe um vínculo entre os modos do poder dizer de si e sua imoralidade objetiva.

Ingênuo talvez seja querer se fundir nessas formas para falar do seu negativo, do rastro de horror que elas deixaram na história. Os senhores que se expressam assim não salvam o mundo. O arruínam.

Brilhos, luxos e exposição de poder não são formas ingênuas. E recobrir toda a consciência da vida com esses valores pode ser um ato estético tão a favor do poder quanto se diz contra.

A crítica deveria se livrar deste entulho de ouro e de sangue. E não gozar com ele, como se essa história, dessas formas, e seu gozo, fosse neutra.

Não há nada de neutro na satisfação em se expor como o poder.

TALES AB`SÁBER é psicanalista, escritor, professor, doutor em psicanálise (USP) e membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae