ARTIGOS

Bolsonaro como mito: ensaio sobre a cegueira de um tal faroeste caboclo

por Ana Seffrin

“Todos sabemos que, por mais que eu tome a pílula mágica na hora da morte de meu amigo, algum dia terei de enfrentar a dor de um luto. A não ser que decida viver para o resto de minha vida sob anestesia.”

Contardo Caligaris

No interstício em que as palavras despertam, o Brasil registra oitenta e cinco mil vidas esfaceladas em nome de um vírus. Em latim, a palavra vírus significa “veneno”. O “veneno” de estruturas submicroscópicas com forte potencial bioquímico. Partículas diminutas ausentes de metabolismo próprio. Vírus são considerados parasitas intracelulares obrigatórios. Quem apreciaria entender esse “veneno”, sobretudo quando tantos argumentam serem responsáveis pela morte de seres humanos? Relegar às entidades submicroscópicas a culpa dos problemas que enfrentamos no presente é negar a importância da espécie biológica, muitas vezes utilizadas como fórmula no tratamento de determinados cânceres e terapias genéticas.  Vírus são responsáveis únicos pela morte de 85 mil pessoas em Terrae brasilis? O vírus COVID-19 retém responsabilidade única nessa tragédia sem precedentes?

 O filósofo e historiador Alexis de Tocqueville (1805- 1859), advertira que, “uma vez que o passado já não ilumina o futuro, o espírito caminha nas trevas”. Vidas humanas que desandam a um “fim definitivo” em nome de uma engrenagem virótica seriam irrelevantes em nome de fatores econômicos? É justo pensarmos que as engrenagens econômicas não podem – ou devem – “frear” em nome da probabilidade de milhares de seres humanos perderem a vida? Quando observamos discursos historicistas que condenam totalitarismos e banalização da existência, como a matança beligerante das duas Grandes Guerras Mundiais, somos levados a certos questionamentos. E nos esquecemos que o pior parasita não é um vírus; não há parasita mais profano do que uma ideia.

O que poucos admitem, por certo, é a irrestrita verdade de que oitenta e cinco mil pessoas perderam a vida – até o presente momento – não somente em razão de um “vírus”. Uma única entidade não pode arcar com o fardo de uma crise institucional dessa magnitude. Quando, a exemplo, reflexionamos a respeito da Segunda Grande Guerra Mundial, o Estado Nazista foi considerado responsável pelo assassinato de milhões de seres humanos. Um parasita:  Poder Totalitário. O que poucos admitem – a conveniência do silêncio como regra do jogo – é que a ideia necessitou de apoio e colaboracionismo.

Falemos sobre o significado de Mito Nacional. Porque um Mito, às vezes, é aquela figura humana que persiste em renegar à memória do esquecimento um fato. É sempre mais fácil apontar o dedo a outrem admitindo que carrega “culpa inequívoca”. Uma entidade viral resume o desastre. Merece ser exorcizada. Glorificar uma ideia mesmo que seja absurda – como utilização de uma medicação chamada hidroxicloroquina em torno da pandemia, substância considerada controversa e sem comprovação científica medicamentosa; “reduto salvacionista”, manipulação de discurso. Luta contra o vírus mesmo que as autoridades reneguem esse argumento e os danos às vítimas gerem efeitos colaterais graves – como arritmia cardíaca. O discurso funda o exercício político do passado incapaz de oferecer respostas ao futuro na ladeira do abismo dos estratagemas do terreno fantasmagórico do pretensamente aceitável ante a ausência de uma solução maior – porque os fins justificam os meios. Sempre tem reduto de espaço para o Príncipe de Maquiavel.

Falemos sobre a mitologia do colaboracionismo e do silêncio conivente e como Mitos, sobremaneira políticos, surgem como subterfúgio para escaparmos da realidade e lidarmos com a mesma através de fábulas. “Há mitos para cada estágio da vida. À medida que você envelhece, você precisa de uma mitologia mais consistente”[1].

Em 1940, a França rendeu-se à Alemanha, o que dividiu o país em zonas ocupadas. O marechal Phillippe Pétain, então herói francês pelo papel na batalha de Verdun na Primeira Guerra Mundial, torna-se líder do regime. E, como um vírus parasitário, não apenas apertou a mão do inimigo Adolf Hitler. A Alemanha nazista, ao ocupar o norte da França, liderou a zona livre a partir de Vichy, cidade no centro do país. As autoridades militares francesas e nazistas atacaram a população judaica. Esse aperto de mãos colaboracionista tão danoso quanto uma entidade virótica, após a abertura de arquivos franceses em 2015 – esconder o passado tende a ser uma boa estratégia diplomática – causou aproximadamente 80 mil deportações de civis e mais de 15 mil mortes. A exemplificação leva-nos a concluir que o Holocausto não ocorreu tão somente pelas mãos de nazistas. Um “Mito Nacional”, após a derrota da Alemanha nazista[2], solidificou a mitológica negacionista dos franceses contra os nazistas, que se tornaram inimigos aos holofotes públicos. Charles de Gaulle tratou de propagar uma espécie de mito salvacionista da França contra os nazistas, como se o país tivesse se recusado a colaborar com o ocupante. De Gaulle construiu a imagem de um país imaginário e resistente. Os interesses franceses eram “estrategicamente” mais importantes do que a revelação da verdade.

Desde fevereiro de 2020, o Estado brasileiro colige a uma espécie de recôndito mito similar à França colaboracionista. Carlos Fuentes, escritor e diplomata panamenho instiga na obra “Federico em sua sacada” que não exista quem não se considere “democrático” – até as piores tiranias se consideram democráticas. Muitos, quando tem a oportunidade, soltam amarras, regressam à natureza primitiva e dizem a si mesmos o quanto não desejam que os próprios atos sejam quistos como “pecado”, porque o pecador é culpado – o fardo da culpa acomete a consciência – e o desejo factual de tantos é auto afirmar e reafirmar que as próprias ações não sejam pecado, senão natureza. Fato da natureza[3]. Culpa da natureza. Um vírus que advém da natureza. A culpa é do vírus. Ele que carregue a culpa.

Embora observemos a história na rítmica do “aprendizado” e reconheçamos os bombardeiros norte-americanos no Japão durante a Segunda Guerra, os mesmos irrompem numa mediana de até oitenta mil mortos apenas em Nagasaki e cento e sessenta e seis mil mortos em Hiroshima. “As baixas” de Nagasaki, causadas por armas nucleares, foram causadas não somente por artefatos militares, senão homens que disseram sim e dizimaram a vida de milhares de civis. A história cria fábulas e mitos. Nagasaki não sofreu com um vírus ou uma bomba que caiu do céu por acaso. O Brasil sofre os mesmos impactos de uma bomba atômica. São vidas humanas dizimadas. Por ausência de políticas sólidas, de humanismo, por ausência de cooperação entre sociedade civil e políticos eleitos democraticamente. Porque o sistema econômico mostrou-se mais uma vez falho, prova irredutível de valores humanos deturpados.

Persistem vozes em nada generalizantes oriundas de centenas de políticos e outras personalidades não políticas a dizerem que o contexto não consista, em si, temática de circunspecção suprema à preservação da vida – “porque a economia” não pode parar. A economia “preserva” a vida de inúmeros, a morte de tantos outros tende a ser pragmática aceitável para inúmeros. Esse debate pode ser quisto enquanto projeção de facilidade teórica. Inúmeras famílias sofrem não com a possibilidade de suas vidas serem soterradas em nome de um “vírus”, mas desemprego mássico, ausência de condições financeiras, pobreza e violência. Quando algo é escrito a respeito, toda cautela faz-se necessária. O estado de guerra – anarquia institucional – já existia; a pandemia mostrou  com ferocidade o que um vírus faz: colabora com o regime caso ele estenda a mão.

O problema não diz respeito apenas à “chegada” do vírus COVID-19 no país. O enigma é a elevação demagógica à categoria de Mito a um personagem e uma situação que camufla a realidade e colabora fortemente com valores antidemocráticos, pregando-se a culpa a tudo e todos frente ao status quo perseverante; culpar o outro, mesmo invisível, menos a si mesmo – porque o discurso da inocência, como relembra Fuentes, é perspicácia argumentativa. As páginas da história terão a petulância de culpar estruturas submicroscópicas pela morte de milhares de brasileiros? De outro modo, essas atitudes comprovam que as democracias contemporâneas e mesmo as que usam a máscara democrática vivem de um passado que, além de não iluminar o futuro, induz milhares de seres humanos a um ensaio sobre a cegueira.

Há poucos dias escutei nos sons advindos do rádio de um táxi o discurso de um político que enfrenta dificuldades sorrateiras em barrar as mortes causadas pela pandemia COVID-19; o argumento é único: frear a pandemia, as mortes e mesmo infectados pressupõe cautela para que lidemos com as classes médicas, setores econômicos e políticos – eleitos para preservar a vida de todo e qualquer brasileiro antes da carruagem econômica. Ele insiste em dizer ao interlocutor que, se as medidas não tivessem sido impostas da maneira que foram desde março, o saldo de mortes seria de mais de três mil vidas. Insiste em reiterar que, se a preservação da vida não for mais importante do que qualquer outro critério, então “ele não sabe o que é importante”. Estados sulistas tomaram atitudes iniciais “exemplares” de isolamento social, porém recuaram em favor de flexibilização o que germinou uma realidade de progressivo colapso do sistema de saúde entrando em cena. O condutor ainda me observa, dizendo: “é um imbecil, não acha?”. Prefiro silenciar. Não por conivência, mas porque ele desdenha um argumento a favor de inúmeros seres humanos. Ele age como o Mito. Nenhum Mito se faz, realmente, sem apoio de similares.

Quando o argumento financeiro de sustentação das relações sociais recebe um xeque-mate um tanto quanto óbvio – e o ensaio sobre a cegueira do sistema econômico vale mais do que oitenta e cinco mil vidas – a lembrança de Tocqueville alerta para a possibilidade de que o passado não possa se manter como regra. De outro modo, o diálogo interdisciplinar de especialistas de todas as áreas de conhecimento humano exige certa unidade ideológica – ninguém precisa aceitar tudo o que o outro diz, mas devemos ser humildes e ouvir. Em um acontecimento histórico único, mesmo isolados pelas circunstâncias, precisamos compreender que é a ausência que gera a reconciliação. E debater a temática faz-se imprescindível entre todos.

Recordemos: “uma vez que o passado já não ilumina o futuro, o espírito caminha nas trevas”. Quando o argumento financeiro de sustentação das relações sociais recebe um xeque-mate e o ensaio sobre a cegueira vale mais do que oitenta e cinco mil vidas – em poucos dias o aumento será exponencial em relação a infectados e mortes – precisamos relembrar o esquecimento histórico que sucumbe como regra do jogo. Seremos coniventes isolacionistas mesmo ante as discrepâncias mitológicas?

A vida tem que continuar? Por óbvio. E qual vida continua ante a realidade negacionista?  A porcentagem, para muitos, ainda é “pequena” demais para as medidas de prevenção e controle como isolamento social serem impostas de forma irrestrita – mesmo com o sistema de saúde à beira do colapso. É a velha história: vamos ver no que vai dar. Depois a gente dá um jeito. Grande discurso da Casa Grande e Senzala, do homem cordial brasileiro que nada possui de cordial. A economia não pode parar mesmo que dia após dia famílias percam entes queridos? Pode. E deve. Como ocorre com tudo ou quase tudo na vida, pensamos de maneira superficial a respeito de determinado fato e/ou ato que transcenda nos tambores silenciosos da existência. Quando essa força motriz nos chama à ação, é nosso dever não silenciar e intentar pacificar.

Em tempos de pandemia, a compreensão a respeito da vida e mantença de nossas capacidades físicas e psíquicas torna-se um desafio. Perguntemo-nos qual a posição de um pai, uma mãe, um amigo e um companheiro(a) caso necessitasse de um conselho de um Chefe de Estado a respeito de um familiar à beira da morte? Logo no início da pandemia, Bolsonaro, em comentários públicos, disse que a imprensa exagerava a respeito da gravidade da doença; problema superdimensionado. Passados quase cinco meses o Brasil soma no Planalto Central, como também de norte a sul, 85 mil vidas vítimas de COVID-19 – sem soletrarmos mortes por motivos não soletrados nesse momento.  Aduz em rede nacional que o problema tratar-se-ia de um resfriadinho. Estaríamos à mercê de opiniões estapafúrdias que banalizam a vida de tantos que já não possuem vozes para contestar? No final do mês de abril, quando indagado sobre o que teria a dizer sobre o recorde diário de mortes notificadas, deslinda a frase estarrecedora: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?” Ao saber que estava sendo gravado ao vivo, o discurso mudou: “nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos.”[4]

O represente máximo da democracia não titubeia. É um mito. Um mito que não esconde o que pensa.

Bolsonaro agora vive o Mito de um vírus que acometeu sua vida, banalizando-o. A culpa é do vírus, é claro. Da natureza. Oitenta e cinco mil pessoas morreram. Entre os discursos de culpa versus inocência mandou, em junho, uma mulher que questionava sobre o número de brasileiros mortos a necessidade dela mesma “cobrar de seu governador”. Ausenta responsabilidade como Chefe de Estado mesmo após atos e falas e dinamiza uma panaceia de insegurança pública nacional. Bolsonaro diria para essa mulher cobrar de qual governador o fato de estar contaminado? Porque a imprudência e descaso com a adoção de protocolos internacionais irrompem em uma mitologia única: os donos do poder nos dirão como será nossa história. Cobrar dos governadores o término das politicas de isolamento e liberação da economia a fim de preservar a vida humana? O que causa certa repugna ante suas atitudes é que, entre as 85 mil vítimas de COVID-’19, muitas acreditaram em seu discurso como derradeira fórmula para a solução das mazelas sociais. São vitimas não apenas de um discurso, mas da memória do esquecimento. De alguém que dependeu e dependerá sempre e para sempre não de um “e daí”?, mas de eleitores, caso deseje prosseguir governando. Eleitores que enterra e. como um Messias, diz à sociedade brasileira que todos morrem – claro que todos morrem, a vida se dá dessa forma, porém parte substancial da sociedade brasileira poderia estar respirando e vivendo ao lado de seus próximos caso essa tendência discursiva à banalização tomasse outro rumo. Na Alvorada do Planalto Central veremos milhares de simpatizantes,, sem máscaras, em uníssono, eleitores zumbis que digladiam todos os pilares democráticos, aplaudirem uma figura que sequer quixotesca dignifica-se a ser chamada tendo em vista a ofensa ao escritor Miguel de Cervantes. Os moinhos de vento, em Porto Alegre, já não possuem mais leitos. A cidade no ser e não ser. A miserabilidade de discursos desconexos a imperar. Se temos, como cidadãos, a gradecer de algum modo a governadores, agradecemos:  é de se dizer, sem pestanejar, governadores, um breve relato de agradecimento. Sem vocês esse país afundaria de vez.

O Chefe de Estado está em isolamento. Antes de lançar falas um tanto quanto singulares a respeito de seus conterrâneos, cavalgou, brindou, andou de lancha e, sobremaneira, aplaudiu os risos e aplausos dos zumbis a dizerem “Mito”, “Mito” e “Mito” (porque você tem que ser um zumbi a igorar a morte de milhares de comparadoras). Uniu multidões favoráveis a sua gestão sem uso de máscara e adoção de protocolos internacionais. Irrompeu numa dramática situação de fuga de investidores estrangeiros após inúmeros discursos destituídos de respeito à vida humana. Foi quisto pelos principais periódicos do mundo como um Chefe de Estado que faz o espirito de cada alma brasileira vitima da pandemia espíritos que caminham nas trevas. A fragilidade democrática de um presidente que desde o início perseverou por um colapso total do sistema de saúde ao esbravejar abertura econômica.

O Mito, por óbvio, não assume tão somente a face de Bolsonaro. Cada cidadão que apoia e gesticula a favor da carruagem quebrada mesmo que a morte advenha, faz-se Mito. Persevera uma ilusão. O país não encontra uma espécie de equilíbrio entre mortes e modelo econômico vigente. De outro modo, ao mesmo tempo que muitos vociferam os absurdos ditos pelo Chefe do Executivo o aplaudem como a grande promessa nas próximas eleições. Pessoas letradas a soterrar o quanto ele auxiliou determinados setores econômicos e a economia do país. Pessoas letradas e com conhecimento, educação, que sustentarão que esse Mito deve permanecer no Poder. Que observam o passado político recente com rancor e admitem que há um Messias porque entre todos os outros passíveis Messias candidatos à presidência a confiabilidade é difícil.  

Também não ignoro o quão prejudicial seja a sustentação sistemática de inúmeros a dizerem que não carregam essa culpa – eleger Bolsonaro. Ora, na medida em que o voto persiste enquanto um direito democrático, essas pessoas condenam quem exerceu um direito democrático que felizmente ainda existe e reiteram que “essa culpa não carregam”. Então a culpa foi de milhares de brasileiros. Muitas vezes todos aqueles que votaram em indivíduo X ou Y são torrencialmente criticados.  Então a culpa pelas mortes não é de uma figura pretensamente mitológica, como também de milhares de brasileiros que tenham ou não votado. O discurso não difere muito quando o Mito culpa os governadores pelo status quo da economia. Essa culpa não carrego. Todos se eximem de culpa e acabam agindo de maneira similar numa autoproclamação de inocência; é como se Dom Pedro tivesse proferido às margens do Ipiranga: independência para culpados e inocentes. Esse fardo eu não carrego mais, nem que uma coroa exija. Cada qual carregue o próprio fardo. Estamos numa panaceia jurídica, sociológica e política em que por obviedade circunstancial não existe um culpado, não existe uma sociedade isenta, não existe consenso e diálogo. Nesse ínterim, os ânimos se aquecem na sociedade, desde sempre e eternamente díspar, algo que deveria estar unido mas não está. .

Em última instância a culpa é do vírus. Não da ausência de seriedade política governamental.

Agora, me coloco na posição de 85 mil seres humanos. Idosos. Jovens. Crianças. Todas as faixas etárias. E de seus entes próximos. Lamentar não basta. Ou lutamos contra essa lógica ilógica de arrebentação argumentativa como se estivéssemos em um ringue de boxe ou sistematizamos algum tipo de união.

Finalizar tende a ser tarefa onerosa e difícil. As bases de estudo psicanalítico de Judith Viorst na obra “Perdas Necessárias” são trazidas à tona. Ela se predispõe a escrever sobre a perda reconhecendo os pilares existentes entre Amar, Perder, Abandonar e Desistir.

que teremos que aceitar – nos outros e em nós mesmos – um misto de amor e ódio, de bem e mal,

(…)

que nossas opções são limitadas pela anatomia e pela culpa;

que há falhas em qualquer relacionamento humano;

que nosso status neste planeta é implacavelmente efêmero;

e que somos completamente incapazes de oferecer a nós mesmos ou aos que amamos qualquer forma de proteção – proteção contra o perigo e contra a dor, contra as macas do tempo, contra a velhice, proteção contra nossas perdas necessárias.[5]

Essas palavras são dedicadas a todas às vítimas do ontem, do hoje e do amanhã; Vidas que merecem apoio, solidariedade e respeito. São feitas para aqueles que perderam ou anseiam pela recuperação de seus familiares e entes queridos. Alguém precisa ser a voz de um Mito SILENCIADO. O Mito desse enredo chama-se Silêncio. Chama-se descaso. Chama-se barbárie. É como Renato Russo relembra na composição de Faroeste Cabloco a história da sociedade brasileira. Ela viverá e será sempre e para sempre como a de João de Santo Cristo.

E o povo declarava que João de Santo Cristo era Santo porque sabia morrer…ele queria era falar para o presidente toda essa gente que só faz sofrer.

ANA SEFFRIN é escritora e mestre em direito pela UNISINOS/RS


[1] CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 2014, p. 147.

[2] CARTA MAIOR. Como a França de Vichy colaborou voluntariamente com Hitler. Disponível em: < https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Memoria/Como-a-Franca-de-Vichy-colaborou-voluntariamente-com-Hitler/51/48146&gt;.  Acesso em: 25 jul. 2020.

[3] FUENTES, Carlos. Federico em sua sacada. Rio de Janeiro: Rocco, 2013, p. 259.

[4] BBC, NEWS BRASIL. Relembre as frases de Bolsonaro sobre a covid-19. Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53327880>. Acesso em: 25 jul. 2020

[5] VIORST, Judith. Perdas necessárias. – 4ª ed. – São Paulo: Editora Melhoramentos, 2005, p. 14.

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