ARTIGOS

O quão ridículo é Bolsonaro falar que Brasil pode deixar a OMS

por Deisy Ventura

Como alguém que estuda a OMS há mais de dez anos, tive um acesso de riso ao ler que o Brasil está “ameaçando” abandonar a organização.

Ao copiar Trump na estratégia de desviar a atenção do colapso do país, o extremista tropical esqueceu um detalhe: os EUA respondem diretamente por 11,96% do orçamento da OMS, sem contar com sua participação em outras formas de financiamento – só a Fundação norteamericana Bill e Melinda Gates é o segundo maior financiador da OMS com 11,41% do mesmo orçamento.

Já o Brasil recebe ajuda da OMS de diversas maneiras, entre elas a compra de testes para Covid-19 feita por intermédio da OPAS que é o escritório da OMS para região das Américas.

Em outras palavras, o que a OMS vai sentir com este anúncio é pena. Pena da gente, pena do ridículo que estamos passando, sofrimento adicional à carnificina da Covid-19 no Brasil.

Então meu riso se transforma em choro. Porque da perda de respeito e confiança internacionais resultará também a perda de apoio para programas que salvam vidas, aquelas vidas que o setor privado declina, as não rentáveis, que a OMS, com todos os seus limites, tem atendido ao longo de décadas.

Detalhes: foi o Brasil quem propôs, juntamente com a China, a criação da OMS, na Conferência de São Francisco, em 1945; durante 20 anos a OMS teve um Presidente brasileiro, Marcolino Candau (1953-1973).

E agora se encaminha para o lixo da história.

DEISY VENTURA é professora titular de Ética na Faculdade de Saúde Pública da USP e doutora em direito pela Universidade de Paris 1

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