ARTIGOS

Violência contra jornalistas

por José Ernani Almeida

O jornalismo tem três pressupostos básicos – fiscalizar o poder, buscar a verdade dos fatos e fomentar o espírito crítico. Entretanto, muitas vezes, o político vê na imprensa apenas uma coadjuvante no campo da política, um instrumento de reprodução e propaganda, como arma do poder.

O governo Bolsonaro vê a imprensa como inimiga. Em uma de suas tantas declarações estapafúrdias, atitudes alopradas e irresponsáveis, disse que os jornalistas “ são uma raça em extinção” e que “ler jornais envenena”.

Ora, tais declarações incentivam os amalucados bolsonaristas que entram na camisa da Seleção Brasileira, enrolando-se na bandeira nacional a agredirem jornalistas, como aconteceu no último fim de semana, em mais um episódio triste desta verdadeira mixórdia bozozóica que vivemos.

Desde o seu surgimento, a imprensa se impôs como uma força política. Os governos e os poderosos sempre a utilizam e a temem; por isso adulam, vigiam, controlam, agridem e punem jornais e jornalistas.

O jornalista é sempre bem vindo para elogiar e considerado – como agora, intruso – quando exerce a sua função de criticar e fiscalizar. Pensar diferente foi considerado crime no Antigo Regime, na Epoca Moderna, como foi em vários períodos do século passado. 

O controle do pensamento vigorou no mundo antigo, grego, romano, na Idade Média, Moderna, mas foi no século XX que alcançou seu maior vigor.

O Brasil tem uma verdadeira tradição censória que integrou o projeto político de diversos governos brasileiros, iniciando-se no período monárquico e ampliando-se no republicano, especialmente no Estado Novo e na ditadura militar de 1964/1978.

Agora, uma verdadeira e típica postura fascista surge promovendo o anti-intelectualismo, atacando universidades e sistemas educacionais, a imprensa etc, que poderiam e devem contestar as ideias do bolsonarismo.

Depois de um tempo, com essas técnicas, a política fascista acaba por criar um estado de irrealidade, em que as teorias da conspiração e as notícias falsas tomam o lugar do debate fundamentado.

As agressões a jornalistas mostram o claro desejo de acabar com o jornalismo crítico e independente. Fica patente o perfil do censor, a herança autoritária dos tempos da ditadura militar, da qual o ex-capitão é um ardoroso apologista.

Para Jason Stanley, autor do livro Como Funciona o Fascismo, “os políticos fascistas minam os pilares da democracia – eleições livres, judiciário independente, liberdade de expressão e de imprensa”.

É necessário lembrar que a censura é multiforme e camaleônica. Ela nunca morre, apenas dorme. Precisamos, portanto, estar sempre atentos para defender o trânsito livre das ideias, dos relatos e, consequentemente, da atuação dos jornalistas.

JOSÉ ERNANI ALMEIDA é professor de história do Brasil e especialista em história pela UPF/RS

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