por José Ernani Almeida

Os participantes das carreatas pelo fim do isolamento social e a volta ao trabalho com seus carrões vistosos buzinaram alardeando pelas ruas do país e avenidas sua verdadeira postura ideológica.
Mostraram de forma sobeja como funciona o capitalismo, exigindo que os governos estaduais e municipais assegurem o que entendem por seu direito, o direito de explorar, o direito de abocanhar a mais-valia produzida pelos seus empregados.
E se milhares morrerem? Ora, isto faz parte do jogo do capitalismo. Sempre haverá um exército de reserva para ser chamado e ocupar as vagas dos que fenecerem.
O que é inaceitável é a perda de seus lucros. Seu capital é intocável. Não aceitam que o Estado imponha o isolamento social, mesmo que isto represente salvar milhares de vidas.
Acima de tudo estão os interesses de classe. A Casa Grande continua sugando a Senzala como vem fazendo desde a formação deste país.
Antes que morram ou se tornem inúteis pelas sequelas da doença, seus empregados devem dar até a última gota de sangue em nome do capital. O fundamental é a geração de excedentes financeiros.
O Brasil não pode parar, alardeou o Presidente. Na verdade, um eufemismo para a exortação a exploração do trabalho humano. A avareza, o egoísmo, a desumanidade foi posta a nu pelos participantes das carreatas pela morte.
Pela televisão fiquei observando que os integrantes das carreatas pela morte não desceram de seus carros. São obscenos, depravados, mas não são trouxas. Ninguém queria correr o risco da contaminação. Isto fica para seus empregados
A turma das carreatas é a mesma que levou à Presidência o demente que afirma ser a pandemia uma “gripezinha”, um “resfriadinho”, fruto da histeria de médicos e cientistas. Uma nefasta invenção da ciência chinesa em conluio com a propaganda do comunismo internacional. Ulala!!
Sua mente perturbada o leva a negar a ciência e a realidade.Acusa prefeitos e governadores de acabarem com os empregos, mas assinou uma MP que permitia a empresas interromper contratos por 4 meses sem pagar salários. Isto é, ia jogar milhões aos vírus e à fome. Coisas do “gabinete do mal”.
Convenhamos que é muita coisa ruim ao mesmo tempo: o coronavírus e Bolsonaro. No momento em que o país precisa de um timoneiro sério, competente, ponderado, firme, sereno e inteligente o que temos é um sociopata. É carga demais para suportarmos.
As carreatas da morte mostraram, por outro lado, que Bolsonaro só é presidente, como traduziu com muita lucidez o historiador e jornalista Juremir Machado da Silva, “pela associação entre o ressentimento ideológico tosco de muitos e o cinismo do chamado mercado sempre disposto a abraçar aberrações para tentar faturar mais no menor tempo”.”
JOSÉ ERNANI ALMEIDA é professor de história do Brasil e especialista em história pela UPF/RS
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