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Violência contra a mulher: o caso Damares

por José Ernani Almeida

De 25 de novembro a 10 de dezembro são 16 dias de ativismo contra a violência sobre as mulheres. Período que nos leva a uma necessária reflexão sobre sua luta ao longo da história.

O sistema patriarcal, através de construções ideológicas misóginas e machistas, sedimentou a ideia de inferioridade da mulher em relação ao homem. Por muito tempo a mulher ficou restringida a uma imagem limitada e distorcida de si mesma.

Ela foi silenciada, suas aptidões desprezadas, sua capacidade intelectual subestimada, suas ideias desdenhadas, seus talentos ignorados e desperdiçados.

Ao longo dos tempos do patriarcado, a mulher deveria corresponder, incondicionalmente, às expectativas masculinas e em troca receber proteção e sustento. Seus desejos e sonhos foram ignorados. Não eram ouvidas, ou melhor, nem sequer se manifestavam, pois eram educadas para o silencio, a resignação e a obediência.

A sociedade brasileira, extremamente conservadora, viu na mulher ideal aquela que deveria ser dócil, obediente, fragilizada – bela , recatada e do lar –, para pertencer a um homem. O nosso patriarcado determinou que as mulheres fossem inferiores e, portanto, submissas aos homens e, estes, superiores, dominadores.

Em pleno século 21 a realidade de crimes sexuais, feminicídios, preconceitos, ameaças e assédios seguem fazendo parte do atormentado cotidiano das mulheres brasileiras.

Se tudo isto não bastasse a ministra Damares, mulher e pastora evangélica, promove palestras contra o feminismo e declara que sua missão é ensinar meninos a serem gentis com as meninas; os primeiros de azul, as últimas de rosa.

Uma das absurdas fixações dos novos cavaleiros da moral e dos bons costumes é a tentativa de disciplina sobre os corpos femininos e o enquadramento heteronormativo da sexualidade, no melhor modelo fascista.

Assim, a cultura da violência contra a mulher se acentua. Ela ainda é vista como mero objeto por boa parte de nossa sociedade. E é fácil de encontrar explicações para tal fenômeno.

A violência pode ser atribuída a uma interpretação histórica tendenciosa e preconceituosa que a colocou na condição de mera servidora à sociedade, ao marido e aos filhos.

A violência, portanto, não é casual. Em sociedades estruturadas , como a nossa, sobre a desigualdade e a discriminação contra as mulheres, as vítimas são escolhidas precisamente por seu gênero. É a permissividade social da dominação masculina que conduz a práticas cotidianas de violência sistemática.

Florbela Espanca, poetisa portuguesa, disse certa vez, com muita propriedade: “É pensando nos homens que eu perdoo aos tigres as garras que dilaceram”.

JOSÉ ERNANI ALMEIDA é professor de história do Brasil e especialista em história pela UPF/RS

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