por Taimara Foresti

O filme Capitão Fantástico de Matt Ross nos convida a repensar a relação com nossos ideais. Segundo Rita Von Hunty, o prefixo “re” tem por significado “fazer de novo”. Logo, (re)lacionar é fazer, novamente, laço. O filme convoca não só a repensar os laços com os outros mas também os nossos modos de viver. A cada momento refaz o laço da nossa existência e das nossas ações, com provocações sensatas e profundas.
Entre os múltiplos sentimentos que a história de um pai que cria seus seis filhos na selva, com costumes próprios, roupas coloridas, flores na cabeça e sinceridade nos provoca, há um que sobressalta: o sentimento de revolução que nos habita mais ou menos subjacente.
Na contramão da sociedade do consumo, do exagero, das inverdades e das barbáries, essa família incomum é profundamente sensível. A conexão com a natureza contraria os pressupostos da sociedade líquida de que falava Bauman. Na selva, a família fantástica busca reestabelecer o que há de sólido não apenas nas relações interpessoais, mas também nas relações do ser humano com a natureza.
O filme nos faz criar questão, afinal, o que importa em nossas vidas controladas, urbanas e predeterminadas? Daí porque o florescer de um sentimento de revolução interna é inevitável com o filme. Um verdadeiro convite ao desejo de mudança, de querer fazer diferente. Reciclar pensamentos e nossa existência para que tenham uma roupagem nova (preferencialmente colorida).
Em um cenário atual de pregação ao ódio e à intolerância, a história do filme reaviva o sensível, o mágico e o profundo sentimento de humanidade que cada mais se perde em nossa sociedade de consumo e de mercado.
A história envolve porque nos autoriza a pensar fora desses muros, a buscar não uma felicidade conveniente mas uma que atenda a nossos desejos. Talvez refazer os laços que insistimos em transformar em nó. Talvez realizar uma revolução, não com armas, mas com as flores que em que conseguimos ver alguma beleza.
TAIMARA FORESTI é psicóloga e mestre em psicologia pela IMED/RS
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