por Cláudia de Marchi

Quem me acompanha há algum tempo, sabe que sou fã de
filmes e de séries.
Sobretudo, daqueles e daquelas com cujos personagens eu
me identifico. Caso da minha “alma gêmea” fictícia, o já
“extinto”, ainda que eterno, Dr. House. Um anti-herói bem eu,
bem “claudiano”.
Mas, neste universo de séries médicas, também gosto da
Meredith Grey, apesar de, nas primeiras temporadas, ter
“gamado” na Cristina Yang, fato é que a protagonista tem “seus”
momentos.
Aliás, sou fã de Grey’s Anatomy por incontáveis razões.
Creio que boa parte dos 13,3 mil seguidores que perdi esta
semana com a desativação arbitrária da minha conta no Instagram
(@claudemarchi3) sabiam disso.
Conta comercial: conta de escritora, galera!
Meu site constava no perfil, mas o acessa e lê quem quer.
Eu usava o Instagram para compartilhar epifanias, textos,
opiniões sobre empoderamento feminino, política e, claro, sobre
ser uma acompanhante de luxo empoderada e feminista nessa
sociedade hipócrita e misógina.
Mas, ser “puta profissional” é uma parte ínfima da minha
existência. Antes de tudo eu sou uma puta mulher inspirada! Uma
puta escritora. Uma puta mulher livre e acho que aí está a questão:
faltou ostentar os peitos, faltou siliconar o corpinho e divulga-lo,
sobraram reflexões e “rompimento” de paradigmas.
Nos últimos 3 anos eu causei repulsa em misóginos, em
machistas e até em feministas, algumas que sequer são radicais,
mas apenas limitadas mesmo. Desperto raiva em pessoas de
esquerda, em pessoas de direita, em bolsonaristas, em lulistas e
etc.!
Todavia, o fato é que o Instagram “capturou” sem aviso a
minha conta e, com ela, histórias, momentos, inspirações e, claro,
o tempo despendido para compartilhar reflexões com quem,
deduzo, as apreciasse 1 .
Bem, a questão é que meus leitores sabem que gosto de
“Grey’s” por inúmeras razões: aborda com seriedade temas como
racismo, empodera minorias, super-empodera mulheres, denuncia
relações abusivas, enfim, Shonda Rhimes criou uma série épica
que, não à toa, está na 15ª temporada.
“Tá, Cláudia, mas por que eu estou vendo essa imagem da
Meredith ‘submergindo’?”.
1 Em minha modesta pessoas minimamente sensatas acompanham quem
gostam, exceto se forem masoquistas.
É uma cena do 16º episódio, da 3ª temporada. Deve ter ido
ao ar em 2006/2007.
“Afogamento em terra firme” é o nome do episódio.
Drowning on Dry Land em inglês (assim como todos os
episódios da série, este leva o título de uma música).
Hoje eu passei 6 longas horas do meu dia trabalhando numa
ação que seria desnecessária se existisse “justiça” aqui no mundo
real e, então, eu me lembrei da fase da Meredith quando se
afogou.
Porque têm dias que, sim, a gente quer “desaparecer”,
mesmo que tenhamos “muito a dizer”.
Existem fases da vida da gente em que, mesmo sendo
“malhada” na capacidade cardiopulmonar e na habilidade de
nadar, a gente pensa em se entregar.
A gente “afrouxa as pernas”, num sentido nada erótico.
Existem fases em que a gente se sente cansada, muito
cansada.
Atualmente eu estou exausta, mas, ao contrário do que me
acometia há um ano quando o meu problema era uma gripe forte e
um ou outro “ataque de pânico” conscientemente inexplicável,
agora “tudo” tem explicação.
E é o “excesso” de explicação que extenua!
São os “porquês” que me matam.
Eu não quero precisar voltar ao Efexor.
Eu não quero a porra do Efexor!
Eu só quero não estar cansada.
Eu só quero não ser decepcionada quando eu penso que
“agora vai”.
(…)
Mas “não vai”, inclusive retrocede um pouco!
Eu não quero ter que tomar Frontal para o meu coração não
ficar agitado.
Não quero ter que respirar num saco de papel ou desmaiar
de manhã cedo.
Não quero me sentir furiosa e quebrar um copo.
(Ou mais do que um).
Eu só quero não ter motivos para precisar de remédio pra
nada!
Não quero bater.
Não quero gritar.
Não quero agredir.
Eu só quero não apanhar!
Eu só quero não precisar reagir a toda sorte de menosprezo,
desrespeito e injustiça, inclusive jurídica.
Eu quero “não ser” menosprezada!
Estou farta de ter o meu equilíbrio- conquistado a duras
penas- sendo provado!
Todo santo dia uma provação diferente.
Eu estou exausta e me sinto assim: me afogando em terra
firme.
Mas, então eu analiso a minha vida e tudo que já passei.
E também me lembro da vida de Meredith Grey até o
episódio do “afogamento”.
Caraca, apesar do seu (quase) afogamento, Meredith
sobreviveu, não é?!
E depois sofreu coisas muito piores do que ouvir da mãe que
ela era uma decepção por ter se tornado “nada além” de uma
pessoa comum.
Sofreu coisas muito, muito piores, porque, realmente a vida
é isso: a gente levanta de um tombo e cai outro.
A questão é que enquanto estamos no chão a gente acha que
nunca vai ficar em pé de novo, a gente superestima a nossa dor e
subestima a nossa força.
Depois de um tempo, porém a gente percebe que, assim
como existirão quedas (e eis a série aí de prova), haverá
conquistas.
Haverá força e resiliência.
Todavia, se hoje eu desejo para mim serenidade e paciência,
também desejo para quem me lê, algo que eu exercito: bom senso.
Permita-se sofrer.
Aceite os dias em que você está se sentindo afogar e, apesar
de saber nadar, se entrega ao cansaço.
Não permita que essa onda escrota de positividade, “good
vibes”, “mindset” revolucionário e caralho a quatro se torne uma
obsessão capaz de fazer você se sentir ainda pior consigo mesmo,
porque está padecendo com problemas reais aos quais você não
deu causa!
E se deu causa, foda-se!
Você não queria se enrascar e sofrer, certo?!
Então se perdoe, camarada.
Você
Não
Precisa
Estar
Sempre
Alegre
E
Sorrindo!
Você
Também
Não
Precisa
Se
“Diagnosticar”
Como
“Depressivo”!
Você não precisa estar doente para se sentir doente.
Às vezes você só está vivendo uma fase bem bosta, mesmo!
Acontece.
Existirão outras fases bostas pra você viver e superar,
acredite!
Essa situação que está lhe angustiando, irá passar. Virão
outras piores, virão outras melhores, tente manter-se vivo para
gozar dos bons momentos que virão e de outras emoções.
Resista, persista!
Se você tiver maturidade e bom senso para se perdoar, se
conhecer, sacudir a poeira e persistir, vai viver fases lindas,
irmão!
Existirão momentos e sentimentos que farão todo o
sofrimento ser esquecido.
Os momentos de alegria se sobrepõem aos da dor, mas nem
por isso devemos negar a tristeza, a frustração, a raiva e a
irresignação.
Nós precisamos vivenciar os sentimentos para podermos nos
“bem revolver” na vida!
Tá liberado chorar! Tá liberado hibernar. Tá liberado tomar
um porre e chorar até dormir! Tá liberado reclamar pra caralho,
afinal, se você não desabafar os seus sentimentos irão lhe sufocar
e, quem sabe, (aí sim!), lhe farão adoecer.
Permita-se viver a dor, mas não aceite ser triste!
Aprenda a distinguir o “estar” do “ser”!
Se a tristeza chegar sem motivo ou insistir em ficar, então
você deve procurar ajuda, sim senhor!
(Ajuda especializada, não coaches charlatões).
Enquanto a ferida estiver sangrando, se perdoe. Se cuide.
Lamente. Chore bastante.
Chore, mas tome bastante água.
Se hidrate!
Passe creme no rostinho antes de dormir, use filtro solar de
dia, enfim, cuide bem da pele, porque a dor vai passar e não custa
nada garantir que a sua cútis estará hidratada e seu organismo
saudável, quando você se animar, “vestir” seu melhor sorriso e
colocar essa carinha linda no sol!
Cláudia de Marchi
Brasília/DF, 29 de maio de 2019.
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