por José Ernani Almeida

Um movimento ganhou força mundial nas últimas semanas depois da morte de G. Floyd nos Estados Unidos, caracterizado por protestos contra o racismo. Em vários países os alvos foram monumentos que homenageiam personalidades ligadas ao colonialismo e à escravidão.
É legítimo derrubar monumentos, estátuas que representam o passado ? Para o historiador Marc Bloc, a história é a ciência que estuda o homem e a sua ação no tempo. Assim, segundo o francês, é preciso constantemente olhar o passado a partir do presente, sem nunca negar os valores atuais.
Na verdade, me parece, não é uma questão de apagar a história, mas sim promover um readequação na importância atribuída a determinados personagens. É ampliar o conhecimento sobre sua trajetória, sua verdadeira personalidade e, não apenas, destacar um suposto heroísmo.
Juremir Machado questiona: “Quem foram esses homens? O que fizeram? Foram somente heróis? E se tivessem sido também infames personagens de uma época cruenta em que o futuro se fazia a golpes de preconceitos, de lança e de balas de canhão ?”
Entre nós quais as personalidades do passado que poderiam ter suas estátuas ameaçadas ? Bento Gonçalves, herói da Rev. Farroupilha seria um dos casos. O historiador Tau Golin tem uma obra, cujo o título é “Bento Gonçalves, o herói ladrão”, na qual o lado sombrio do herói farroupilha é desnudado.
David Canabarro não resistiria a uma revisão das homenagens do passado. Ele foi o responsável pela Traição de Porongos, uma infâmia contra os Lanceiros Negros que foram, por sua ordem, desarmados e oferecidos à sanha da violência das tropas do Império.
Neste acerto de contas, algo natural que cada época faz com sua história, quantas avenidas, praças, pontes, viadutos que homenageiam ditadores deveriam ter suas denominações alteradas. Presidente Vargas, Castelo Branco, Costa e Silva, Geisel, Médici, Figueiredo etc
Historiadores sugerem que, no caso das estátuas, estas deveriam ser transferidas para museus, onde o estudo da sua representatividade seria mais racional. Não se apagaria a história de tais figuras eternizadas em metal ou pedra. Mas também não teríamos que suportá-las em nossos belos logradouros.
Meus atentos botões indagaram: por que só figuras da elite, militares e políticos são alvo de tais homenagens ? Por que não temos estátuas de índios e negros ?
Lembrei-lhes que, entre nós, a trajetória de índios e negros, com raras exceções, foi esquecida na narrativa da história oficial. Lhes asseverei que precisamos fazer, com urgência, um acerto de contas com a história de índios negros.
JOSÉ ERNANI ALMEIDA é professor de história do Brasil e especialista em história pela UPF/RS
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