por Liliane Pimentel

O nascimento do bebê é acompanhado do nascimento da mãe, do pai e de uma nova estrutura familiar. Não é à toa que o primeiro ano de puerpério pode durar além dos quarenta dias após o parto. A nova mãe é convocada a nutrir a nova vida com leite, amor, disposição, doação. O pequeno bebê que acabou de chegar desconhece horários e o tempo cronológico. O bebê não reconhece qualquer coisa ou ser além daquela com quem poderá vir a estabelecer uma relação simbiótica, caso ela aceite, adotando-o. Sim, a mulher que pariu, precisa adotar o seu filho; o filho que gestou e pariu, senão, do contrário, ela será apenas a progenitora. Entre outras coisas, uma mãe vai se fazendo mãe nessa adoção – doação.
O bebê que nasce rompe com as fantasias da mulher mãe; é importante que a mulher mãe possa acolher essa queda das idealizações – essa que está nascendo não se reconhece na anterior – a outra, mas ainda não sabe quem poderá vir a ser – é uma outra em construção, constante, que nesse percurso precisara de nutrição emocional.
Nos primeiros meses é necessário que a mãe ofereça nutrição, tanto no sentido alimentar quanto emocional para o bebê, fazendo uso de seu corpo para isso – e não me refiro aqui especificamente a amamentação do leite que produz o seio da mulher; mas ao colo disponível, aos braços acessíveis para que o bebe seja segurado, amparado, o peito onde o bebe pode recostar a cabecinha e relaxar ouvindo as batidas do coração forte da genitora. Contudo, por vezes, a mulher não encontra onde se nutrir.
São noites em claro, cansaço, alterações hormonais, uma turbulência emocional. Junta-se a isso tudo um corpo modificado, uma rotina que não cabe na atual circunstância, cobranças estéticas e profissionais. Há um vácuo, um buraco negro a perturbar todas as idealizações, os planos bem calculados, o que era conhecido e certo até outrora.
A maternidade pode ser solitária e solidária, não precisa ser vivida sozinha, mas numa rede de amparo e apoio ou melhor dizendo, uma rede nutridora. Pode parecer solitária porque cada mulher devera construir o próprio caminho na relação com cada filho, independentemente do número de filhos que tenha. Cada gestação será única, assim como, cada filho demandara algo especifico na relação com a mãe. Todavia, a mulher não vivera o turbilhão emocional da maternidade sozinha a medida que possa contar com outras mulheres solidárias com as quais poderá chorar nos dias de maior tensão, pedir apoio ou simplesmente para ter quem a ouça falar que está cansada com singelo interesse, sem julgamentos, nutrindo-a de incentivo – Sim, é possível!
Bem sabemos que a contemporaneidade trouxe benefícios, mas também bombardeia as mulheres com excesso de informação, dicas, conselhos e orientações por vezes até bem-intencionados, mas que além de não agregarem valor, minimizam o sofrimento emocional.
As mulheres recebem constantemente pressões externas para corresponder ao estereotipo de mulher-maravilha, dando conta de tudo, abraçando o mundo; como se fossem sobre-humanas. Lamentavel! Pois pressões como essa diminuem consideravelmente a possibilidade de receberem apoio adequado, inclusive incentivando a competição entre mulheres e a solidão feminina materna. Somente quando uma mulher pode dizer que está exausta, saturada ou que precisa de ajuda, de fato, ela poderá receber o apoio necessário para seguir na jornada da maternidade. Embora isso possa ser visto como vitimismo é preciso que façamos a gentileza de permitir que a vulnerabilidade não seja rebaixada ao status de pouca coisa ou de gente fraca.
Só é possível ascender uma luz se estiver escuro, assim é também com as emoções. Não raro, uma pessoa toma conhecimento da sua força, após passar por algo perturbador e sentir na pele o medo absoluto de enlouquecer. È na vulnerabilidade que reside toda a força. È a medida que a mulher mãe vai sendo nutrida através das relações, que seu bebê encontrará a nutrição necessária para crescer dentro de uma rede emocionalmente forte. A construção de uma mãe é um trabalho de multiplas fontes nutridoras.
LILIANE PIMENTEL é psicóloga clínica, psicanalista em formação e especializanda em psicanálise (UNIFEBE/HSC)
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