por Paulo Ferrareze Filho

Até rebanho merece educação estética. Por isso a imagem que ilustra o texto é um presente e uma homenagem a esse gado tão ávido por mugir seu próprio mau gosto. A profa. Roberta Lima insiste que um dos sintomas fundamentais do rebanho bolsonarista é a crise estética. A estética do gado bolsonarista é péssima. Cores bregas. Logos de puteiro de beira de estrada. Semiótica tosca. Raider com calça social. Feita de desarranjos, reaproveitamentos, requentamentos. A estética bolsonarista é uma mesa de plástico da Kaiser em um bar mal frequentado.
Essa pobreza estética é um jeito de diagnosticar toda a miséria que emana do projeto deles, da subjetividade deles, dos argumentos deles.
Antes que um mugido reclame paridade com o mugido da torcida contrária, quero desde já dizer que há rebanhos e rebanhos. Quem gosta de churrasco sabe disso.
A diferença entre o gado mais à esquerda e o gado bolsonarista é que este geralmente tem diploma de graduação e sofre menos com coisas como fome e boletos. Não nos esqueçamos que a população mais escolarizada votou 17 em peso em 2018.
A gente deveria cobrar resultado mental e epistemológico de quem estuda, ainda que nossa educação sabidamente seja desastrosa. Bolsonaro está no poder porque o nosso projeto educacional é tão desastroso que não é um projeto, como dizia, nessa linha, o grande Darcy Ribeiro.
Mas o Bolsonaro é tão malandramente retórico que usa esse argumento a seu favor, com esse delírio de que a educação pública é apenas uma fábrica de militantes maconheiros que vestem camiseta-Lula-Livre. Até a pós-verdade fica chocada com Bolsonaro.
A gente precisa pensar a sério na resposta dessa inconveniente pergunta: como que alguém com diploma de ensino superior continua apoiando Bolsonaro? Qual é a falha cognitiva, a lacuna neurológica, a desconexão mental, o trauma psíquico e o embotamento crítico que faz com que o sujeito continue mugindo?
O gado bolsonarista é a prova viva de que a educação no Brasil é horrível, um acordo fajuto entre professores que fazem de conta que ensinam com alunos que fazem de conta que aprendem.
O mugido persistente do gado bolsonarista ecoa o tosco, o bruto, o burro. Os argumentos são mijo velho numa tampa de vaso cheia de mijo velho, embaixo e em cima. Enquanto o mugido do rebanho mais à esquerda me parece mais uma mistura de estômago vazio com adolescência mal resolvida.
Eu tenho um respeito divino pela fome. E uma repulsa cruel pela burrice maniqueísta. Porque o burro geralmente teve a chance que a fome nunca tem. O rebanho graduado de bolsonaristas teve a chance que a fome não teve. Só que eles faltaram a aula.
O filósofo argentino José Ingenieros chamou o rebanho de medíocres. Uma mediocridade sem maldade, sem dolo, inconsciente da própria ingenuidade.
Uma mediocridade acostumada a crer. Refém inconsciente desse velho mecanismo religioso – o crer – para as coisas da política, da racionalidade civilizatória e da composição de opostos aparentes. Incapaz de deixar de fora tanto o joio quanto o trigo para saber quanto de cada um é necessário na mistura apta a atender uma sociedade tão fodidamente complexa como a nossa.
Outra diferença fundamental entre os rebanhos é que o bolsonarista fez e faz vista grossa para o elogio à tortura. O merda do Bolsonaro foi eleito dizendo altissonantemente, no Roda Viva, que o livro de cabeceira dele era o do Ustra, um torturador perverso, bandido, fodido, criminoso. Ustra é um cara que veio à vida para causar dor.
Como é que alguém que pretende administrar um povo desse tamanho pode ter como referência uma pessoa que veio à vida para causar dor como o Ustra? Como é que 30% da população brasileira fez vista grossa para o elogio à tortura de Bolsonaro?
Abençoado seja o coronavírus. Pelo menos, com essa distância politicamente correta, não precisamos inventar desculpas pra negar convite do gado bolsonarista que ainda não conseguimos mandar pro inferno.
Como podemos conviver com gente tão burra e tão incapaz de perceber que elegeu um sádico? Eu acho que chamar essa gente de idiota é um elogio. Porque os idiotas têm solução: um programa intensivo de leituras guiadas pode ajudar…Mas os sádicos não. Os sádicos são incuráveis. Por isso eu elogio todos os idiotas que votaram no Bolsonaro chamando eles de idiotas.
Eu realmente acredito que vocês possam se recuperar dessa burrice toda. Talvez em algum grupo de Bolsonaristas Anônimos. Toda quarta, às 19h, dizendo na cara dura: “estou há 12 dias arrependido de ter votado nele. Sei que troquei um suposto ladrão por um miliciano sádico.”
Nada melhor que um sádico burro, tosco e genocida pra alimentar a nossa saudade daqueles que eram só ladrões.
E o Moro? Ele é esse misto de ingenuidade, de heroísmo e de rebanho. Eu acredito que o Moro realmente acredite estar fazendo a coisa certa. Há algo de ingênuo e verdadeiro no discurso dele. Moro é essa coisa ingênua. Essa vó com Alzheimer prestes a ser atacada pelo coronavírus. Achou que era o herói, e agora o cavalo dele só fala inglês. Trocou a cabana segura do funcionalismo pra se aventurar no ninho de ratos da política. Pobre do Moro. Até saber se se elege em 2022, vai ter insônias terríveis. Eu não queria estar na pele desse Quixote brasileiro. Ele deve ter saudade de apresentar resultados quantitativos para o corregedor no final do mês. Porque Moro é essa massa amorfa e ingênua que arrebanhará todas as cabeças de gado que acreditam que o bem existe. Podem acreditar: o bem vitorioso será mais laico em 2022.
O gado burro em 2022 vai colocar algo muito parecido com Moro e Dória no Planalto. Anotem aí.
PAULO FERRAREZE FILHO é professor universitário e psicanalista em formação
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Parabéns amigo Paulo. Um texto perfeito que nos permite refletir sobre o que fizeram com esse Brasil. No entanto, acende uma fagulha de esperança de que o futuro a nós pertence. Continue nos dando essas oportunidades de refletir por meio de suas sábias palavras… Abraço!
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Cada vez mais, quando eu leio, ou ouço,pessoas que nos dizem verdades, que vão chegando de forma sorrateira, que vai de encontro com o que desejamos, com o que precisamos, para que todos nós Brasileiros consigamos levar adiante um projeto de vida, que visa, e precisa urgentemente que seja colocado em prática, para que, no mínimo, sejamos tratados com dignidade e respeito, que todo ser humano mais precisa, e que o tempo pede de forma mais urgente que qualquer outro tempo. Quando alguém sábio e corajoso, se manifesta de uma forma mais que honesta e verdadeira, sendo assim, só vai de encontro aos desejos muito mais do que necessários à nós, humanos de boa vontade. Alguém assim, só tem que ser bem visto, bem vindo, acompanhado bem de perto, e além disso, tem que ser respeitado, reverênciado, e seguido.
Muito obrigado, Rita, por ter postado esse valoroso artigo.
Muito obrigado ao autor Paulo Ferrareze Filho, por tão significante, e dignificante material.
Carlos! Um admirador daqueles que através da sua arte, de escrever, de cantar, e muitas mais formas de se manifestar, mostrando as verdades,e os caminhos a serem seguidos, para o bem de todos.
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Ângelo Batista Da Silva
Que diferença faz ser gado de esquerda ou Bolsonaro ou qualquer outro,se estaremos sempre sendo analisados por outros bichos,talvez uma mosca,avaliando nossos atos,pensamentos julgando sempre,parece tão simples trocar um Ladrão comunista por um Sádico Militar,quando se tem só estas duas escolhas,sendo que uma já avia sido reprovada. Elogio a tortura é ver dinheiro de merenda,educação,aposentados e saúde sendo desviados para sustentar viagens,regalias e jantares caríssimos de ex presidentes,benefícios a parentes de quem elabora as leis para si ou apenas uma opinião um livro usado como protesto.Como conseguimos conviver com pessoas de extrema sabedoria que por um capricho do universo os fez diferenciados,dando-lhes oportunidades de rotular seres supostamente inferiores e pensamentos opostos ou a falta deles,não devemos ser como a mosca que na falta do doce busca seu alimento na merda.
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