por Gabriela Duarte

O reinado de Luís XIV, no século XVIII, foi o auge do absolutismo francês e ficou simbolicamente sintetizado na máxima: “o Estado sou eu”. Luís XIV detinha todos os poderes e era considerado a personificação de Deus na Terra. Tudo o que ele falava era louvado, já que as palavras do rei eram sempre sagradas. Os súditos lhe deviam obediência, respeito e não podiam confrontá-lo jamais. As decisões reais eram acatadas por todos, sem exceção.
Hoje, em pleno século XXI, em meio a um dos maiores desafios das últimas décadas, temos um paralelismo com o velho absolutismo francês.
Questionando cientistas, dados estatísticos, a OMS, as notícias dos veículos de comunicação e os governadores do próprio país, Bolsonaro sonha, dentro de uma democracia instituída(?), em ser tão absoluto quanto Luis XIV.
Ao desobedecer e debochar das recomendações técnicas, tachando de “gripezinha” ou de “histeria” um vírus que já matou milhares de pessoas, Bolsonaro mostra sua face insana, fascista e totalitária.
O curioso é que um rei absolutista nunca sobrevive sem súditos, que agora bem podem ser comparados a um rebanho de animais prontos para o abate. O rebanho de fiéis escuta o presidente e abaixa a cabeça.
Geralmente não questionam o seu soberano e o veem como um ser perfeito. Por isso insistem na reverência mitológica ao presidente.
Essencialmente autoritário, o presidente não admite ser contrariado, mesmo que as críticas venham de órgãos de renome e cacife mundial.
Como uma espécie de Dom Quixote fascista, levanta a sua espada e declara guerra a todos que ousam contrariá-lo. A diplomacia não aparece em seu discurso, pois o seu principal objetivo é impor a sua imutável visão dos fatos.
Por se entender superior aos súditos mortais, minimiza a ameaça do vírus, já que pensa-se atleta (?). Com sua autoestima aparentemente inabalável, segue conduzindo parte do Brasil insano à insanidade.
O slogan do movimento “O Brasil não pode parar”, custeado pelo povo, demonstra a ineficácia, a audácia louca e a traço quixotesco de nosso timoneiro.
Em meio ao caos, suas palavras e ações ecoam pela população tosca, tão suscetível ao vírus quanto ao verme. Um mata o corpo, o outro a inteligência.
GABRIELA DUARTE é jornalista
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