por Gabriel Lepeck

Hannah Arendt foi uma pensadora alemã que viveu entre 1906-1975, período em que o mundo presenciava as atrocidades do nazismo. De descendência judia e vivendo no epicentro do regime totalitário, Arendt não apenas sentiu na pele as mazelas pregadas por Hitler, mas também, embasada nestes fatos, desenvolveu um vasto pensamento crítico no âmbito sociopolítico.
Sua bibliografia traz contribuições para as sociedades atuais, como na obra “As Origens do Totalitarismo”, em que não apenas descreve o que vivenciou, mas também alerta para caminhos futuros que podem levar ao mesmo fim. Porém, não se atenta aqui puramente aos regimes totalitários, mas sim a outra temática abordada por Arendt, o uso do medo e do terror como ferramenta política.
É notório que passamos agora por um momento de incerteza. Uma geração acostumada a viver instantaneamente, com tudo produzido na hora e com informações repassadas no mesmo momento, fica inquieta ao não saber quando a Pandemia de Covid-19 irá cessar. Porém, a incerteza de forma alguma pode ceder espaço ao medo; o aconselhável agora é se apegar a respostas comprovadas, valorizando os esforços científicos que buscam mensurar os efeitos e a duração do surto viral.
O medo citado acima, foi um fenômeno estudado por grande período apenas como um sentimento individual, porém, através de Hannah Arendt ganha nova conotação. Considerando os refugiados de guerra como objeto de estudo, ela cita que os mesmos desprovidos de suas raízes históricas e expostos a intimidação e ao horror, se tornam inertes nas ações políticas, não levando para frente suas indignações e sendo segregados dos debates. Com essa exemplificação Arendt busca mostrar como o terror e o medo são utilizados como instrumentos políticos, neutralizando um possível exercício crítico dos cidadãos.
Uma pequena reconceituação desta teoria pode auxiliar no atual entendimento social. Deixamos de ver o terror apenas como violência física ou ligado ao uso da força bruta, pensamos nesse terror com uma chantagem psicológica. Na última terça-feira (24/03) o senhor Jair fez um pronunciamento em rede nacional, em que utilizou de uma falsa abordagem de promoção da tranquilidade e união social. Suas frases atacaram a todo momento a imprensa e especialistas da área da saúde, refutando todos os estudos e minimizando o Coronavírus, tal expediente foi uma maquiagem para intimidar a população por meio do medo exacerbado nas futuras questões econômicas.
Alicerçado desde a campanha por grandes empresários, Jair, acompanho-os, desloca-se da visão dos líderes mundiais acerca do Covid-19, criticando os regimes de quarentena e, de maneira tosca e desiquilibrada, trata o vírus como uma gripezinha. Sua única preocupação é com a economia. Entretanto, para atender as pautas capitalistas dos seus aliados, utiliza politicamente o terror, apelando para a fome, desemprego e pobreza, que surgirão se as paralizações continuarem, desconsiderando o colapso imediato do sistema de saúde que aparecerá.
Sofrendo terror psicológico, o trabalhador brasileiro fica à mercê da desolação e do desamparo. O Estado e sua figura máxima não apresentam medidas de proteção aos operários, nem incentivos econômicos para as empresas e tampouco repostas para toda a sociedade neste momento de incerteza, apenas potencializam o medo na população com a máxima “ou trabalha ou morre” ao invés de um “resguarde-se, viva agora para voltar a trabalhar depois”.
GABRIEL LEPECK é publicitário e graduado em comunicação social (UNIFEBE)
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