por Juan Manuel Domínguez

Nos últimos anos assistimos com grande preocupação o retrocesso em áreas importantes como a paz, a autodeterminação e a soberania das nações, o cuidado com o meio ambiente, os direitos humanos, a justiça social e a busca pela equidade econômica.
Devido à globalização neoliberal, praticamente todos os sistemas de saúde do continente americano e do mundo passaram por reformas significativas, colocando em prática processos que aumentaram a desigualdade em relação ao acesso de condições dignas de saúde.
Porém, a onda neoliberal do século XXI não implicou mudanças substanciais na política de saúde em Cuba, cujos pilares estão definidos desde a reforma dos anos 1970. A abordagem da “saúde para todos” permaneceu inalterada, consolidada ao longo da segunda metade do século XX até o presente.
Cuba conseguiu manter, mesmo em circunstâncias difíceis, uma ampla cobertura de saúde e um controle de situações epidemiológicas complicadas, como as que aconteceram nos anos 1990 com a dengue e o aumento das taxas de tuberculose. Além disso, nessas circunstâncias complexas, continuou a melhorar seus indicadores de mortalidade e de expectativa de vida.
No entanto, tudo isso não impediu que o país seja o alvo principal dos maiores ataques da narrativa neoliberal dentro do continente americano. O modelo político cubano de partido único deu argumento suficiente para centrar na ilha, e no seu modelo socialista, toda a fúria do conservadorismo americano.
Indiferentes ao bloqueio econômico a que padece há mais de 50 anos, algo que prejudica de forma notória seu desenvolvimento, o modelo cubano é utilizado como exemplo do “fracasso socialista”, como se a realização humana estive univocamente vinculada aos logros tecnológicos e à acumulação desigual de riqueza.
Cuba resiste. E nesses tempos de pandemia mundial, o modelo cubano de desenvolvimento na área da saúde tornou-se um boomerang que golpeia a cara do neoliberalismo, pondo à nu os parodoxos de um sistema incapaz de oferecer resguardo sanitário para a população.
Em 2018 Cuba retirou seus 11.000 médicos do programa “Mais Médicos”, humilhados pelas declarações do presidente Jair Boslonaro, com apoio dos seus seguidores. O “Mais Médicos” foi lançado em 8 de julho de 2013 pelo governo da então presidente Dilma Rousseff e chegou a contar com mais de 18.000 médicos atendendo mais de 4.000 municípios em todo o Brasil. Hoje, o Brasil de Bolsonaro (único país latinoamericano que votou a favor do bloqueio em 2019) pede ajuda a esses mesmos médicos cubanos, já que não é capaz de atender sua própria demanda em meio à crise do coronavírus.
Executivos da empresa Biocubafarma, que produz e comercializa os medicamentos fabricados em Cuba, apontaram que o “interferon alfa 2B humano“, desenvolvido em 1986 por uma equipe de pesquisadores do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB), tem sido muito eficaz no tratamento do surto de coronavírus que surgiu em Wuhan.
Cuba está desenvolvendo um antiviral que está salvando a vida de milhares de pessoas no mundo.
No meio do caos, o improviso e o pânico generalizado pela propagação do Covid-19, Cuba autorizou o navio de cruzeiro britânico MS Braemar, com cinco casos confirmados do novo coronavírus, a atracar na ilha, de onde seus passageiros serão repatriados de avião para o Reino Unido.
O chefe da diplomacia cubana especificou que “juntamente com as autoridades britânicas, foi organizado que, uma vez que os viajantes cheguem à Cuba, eles retornam de forma segura e imediata ao Reino Unido por via aérea”. O barco tinha sido impedido de atracar em vários países da região (capitalistas) da região.
“Somos coerentes com nossa convicção de solidariedade com a humanidade”, acrescentou Díaz-Canel em sua conta no Twitter com as hashtags #SomosCuba e #SomosContinuidad.
Cuba, que tem casos confirmados de novos coronavírus, multiplica as ações de prevenção e de vigilância, e ainda mantém as fronteiras abertas para casos excepcionais, ao contrário do que faz o resto de seus vizinhos.
O boomerang cubano voltou e acertou a nuca do discurso neoliberal norte-americano, mostrando sua fragilidade, sua hipocrisia e sua enorme falta de humanidade.
JUAN MANUEL DOMÍNGUEZ é militante, professor, escritor, jornalista, roteirista, produtor e diretor de cinema. Fotógrafo especializado em fotografia de documentário para a defesa dos direitos humanos
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