por José Ernani Almeida

Foi no dia 27 de janeiro de 1945 que o Exército Soviético libertou o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, símbolo do horror praticado pelos nazistas, com o extermínio de judeus nas câmaras de gás.
Há 75 anos o mundo começaria a ver as práticas bárbaras do regime implantado por Adolf Hitler, entre elas, o Holocausto. “Após Auschwitz”, disse Theodor Adorno, pensador da Escola de Frankfurt, “não deveria haver poesia”. Ele estava errado. Mas a poesia deveria ser sobre Auschwitz.
Ainda hoje nos perguntamos como seres humanos foram capazes de fazer aquilo. “Homo sum, humani nihil a me alienum puto”, disse o dramaturgo romano Terêncio: nada do que é humano me é estranho.
A verdade é que a desumanização continua tão presente agora como no passado. Basta lembrarmos do terrorismo sangrento, estúpido e destituído de qualquer propósito ou dos assassinatos cometidos por Estados, via seus drones mortíferos.
Auschwitz ainda nos assombra, porque é um acontecimento terrível ocorrido há apenas 75 anos. É preciso, portanto, resgatar a sua história, para que nunca mais volte a acontecer.
A história, a palavra, são recursos fundamentais quando tudo em volta parece desmoronar. A memória é uma forma de construir sentidos onde eles se perderam. Não podemos deixar de escrever, narrar, fazer poesia.
O silêncio, em qualquer época, representa omissão. Notadamente hoje, quando estupefatos, ouvimos autoridades governamentais plagiarem discursos dos infames integrantes do nazismo, responsáveis por tanto sofrimento, como o genocídio inominável que ocorreu em Auschwitz.
Em seu livro Origens do Totalitarismo, Hannah Arendt, alertou que : “o caminho do domínio totalitário passa por vários estágios intermediários dos quais podemos encontrar muitas analogias e precedentes”.
Hitler dizia abertamente que, para ser bem-sucedida, a mentira deve ser enorme – o que não impediu que as pessoas acreditassem nele, do mesmo modo como as proclamações nazistas, repetidas ad nauseam, de que os judeus seriam exterminados como insetos (isto é, gás venenoso), não levaram ninguém a acreditar seriamente nessas enunciações.
Nestes tempos estranhos que estamos vivendo, a nostalgia que alguns demonstram do nazismo é profundamente preocupante.
JOSÉ ERNANI ALMEIDA é professor de história do Brasil e especialista em história pela UPF/RS
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