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Nietzsche Após o Colapso Mental

por Paulo Silas Filho

Célebre filósofo, o qual passou por diversas fases em sua vida acadêmica e filosófica, entre altos e baixos – os quais se fizeram presentes tanto quando em vida como postumamente -, Nietzsche contou também como fator responsável pela propagação de seu nome um declínio mental que sofreu após uma vasta produção filosófica.

Conta-se que no dia três de janeiro de 1889, Nietzsche protagonizou um escândalo em público, de modo que teria sido tal o episódio que culminou na constatação presumida de seu colapso mental. Na aludida data, ao ver um cocheiro açoitando um cavalo, Nietzsche teria corrido até o animal, abraçando-o em prantos para protegê-lo. Em seguida, teria se prostrado ao chão e assim permaneceu.  Em que pese não haja um consenso sobre a veracidade de tal episódio (verdade ou lenda?), a história ganhou fama e permanece duradoura.

Desde então, a mente de Nietzsche foi se degenerando cada vez mais, até o fatídico dia em que deu o seu último suspiro. Acabou sendo conhecido à época como o filósofo louco, o que acabou contribuindo para despertar o interesse de muitas pessoas sobre suas obras, afinal, um tipo de filosofia que combatia a moral tal como compreendida em consenso, que pregava através de Zaratustra a superação do homem e o eterno retorno, utilizando-se de uma escrita própria – estilística, de difícil compreensão, aforística… -, colidia com o peculiar agir do próprio filósofo que a produziu, considerando o episódio envolvendo o açoite do cavalo. Seja como for, fama foi obtida após o colapso de Nietzsche.

Poucos dias depois do dito ocorrido, dois amigos de Nietzsche se encontraram e discutiram suas preocupações com o estado do amigo em comum, isso ao considerar o teor de algumas cartas que haviam sido escritas pelo filósofo e enviadas a amigos – íntimos e nem tão íntimos. Algumas dessas cartas foram reunidas e levadas para um psiquiatra, a fim de que o profissional analisasse o conteúdo dos documentos e expusesse uma opinião médica. A recomendação foi no sentido de que o amigo deveria visitar Nietzsche imediatamente, a fim de analisar o seu estado. Assim, tomado de preocupação, Franz Overbeck, amigo de longa data de Nietzsche, parte rumo à casa do filósofo.

Na visita de Overbeck à Nietzsche, a conclusão foi no sentido de confirmar as preocupações com o estado de saúde mental do filósofo. Crise de lágrimas, pronúncia extremamente afetuosa e reiterada do nome de Overbeck e o estremecimento espasmódico de membros do corpo de Nietzsche levaram o amigo a agir imediatamente em prol da situação. A partir de tal momento se iniciou uma série de conduções de Nietzsche para diversos lugares, a fim de tratá-lo da moléstia mental pela qual estava acometido. Clínicas, casas de amigos e de familiares passaram a ser as moradas transitórias de Nietzsche, o qual apresenta cada vez mais sintomas de seu problema, incluindo crises violentas.

Os tratamentos médicos não resolviam nem diminuíam os problemas, pois a moléstia se agravava cada vez mais. Nietzsche chegou a ser “tratado” por um professor que prometera curá-lo, alegando que o filósofo estaria possuído e que a solução seria exorcizá-lo. Após o evidente fracasso de tal método na tentativa de cura, Nietzsche expulsou o impostor num acesso de ira.

A mãe e a irmã de Nietzsche acabaram por vezes se reaproximando deste, cujas reconciliações, dotadas inclusive de afeto espirituoso, eram eventualmente interrompidas pelas crises do filósofo: períodos de mansidão e afabilidade com a família mudavam drasticamente com as crises violentas que resultavam em diversas ofensas.

Nietzsche viveu o período de seu constante declínio mental sob os cuidados de sua mãe, até o falecimento desta em 1897. A partir de então, o filósofo ficou sob os cuidados de sua irmã, Elisabeth. Esta fase foi fundamental para que a irmã se apropriasse ardilosamente das ideias do irmão e as difundisse de maneira duvidosa, desvirtuada, equivocada, enfim, totalmente contrárias à filosofia de fato de Nietzsche, o que culminou numa posterior interpretação errônea do filósofo.

Elisabeth ficou responsável pelos cuidados de Nietzsche até a morte do filósofo, que se deu em 25 de agosto de 1900 em decorrência de apoplexia, já que seu estado de saúde havia se agravado por causa de uma bronquite que se degenerou para uma doença pulmonar.

As hipóteses sobre o que teria causado o colapso em Nietzsche se deram em diversas e variadas opiniões: dizem alguns que se tratou de um problema hereditário, já que o pai também sofrera um mal semelhante que culminou em sua morte; outros, que a causa da perda das faculdades mentais foi devido à sífilis, doença adquirida no período de sua juventude na faculdade que teria se manifestado muitos anos depois; há também os que entendem que Nietzsche foi vítima de sua própria filosofia, condição necessária para a plenitude do além-homem que pregara.

O que restou de Nietzsche foi um forte culto à sua imagem e lembrança, bem como sua farta produção literária, cuja filosofia produzida num estilo próprio e característico do autor é largamente estudada, interpretada e debatida até hoje, mesmo porque, ao que parece, a mensagem filosófica que foi transmitida para além de sua época ainda não atingiu o período para o qual se destinava.

Paulo Silas Filho

Professor de Processo Penal e Criminologia – Universidade do Contestado (UnC)

Mestre em Direito (UNINTER)

Especialista em Ciências Penais, em Direito Processual Penal e em Filosofia

Advogado E-mail: paulosilasfilho@hotmail.com

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