por Paulo Ferrareze Filho

Um amigo mandou a notícia: “STF faz licitação de R$ 1,1 milhão para comprar lagostas e vinhos.”
Abri a reportagem.
O STF se explica dizendo: “seguimos o menu do Ministério das Relações Exteriores”.
Respirei fundo. Pensei em exercícios de yoga para o domínio do demônio que vive em nós. Busquei refletir.
Que fique claro, desde já, que se você quiser comer um pato mal ou bem passado com ervas finas do Marrocos o problema é privativamente seu. O mesmo vale se quiser comer cuzinhos de gato persa ao molho barbecue.
O câncer, porém, se aloja exatamente no fato de que você, ao exercer função pública, não pode comer esse pato ou esse cu de gato se eles tiverem que ser pagos pelos contribuintes.
A título de curiosidade, transcrevo mais informações sobre o edital-menu do STF, conforme notícia do Estadão:
“O menu inclui desde a oferta de café da manhã, passando pelo “brunch”, almoço, jantar e coquetel. Na lista, estão produtos para pratos como bobó de camarão, camarão à baiana e “medalhões de lagosta com molho de manteiga queimada”. Exige ainda que sejam colocados à mesa bacalhau à Gomes de Sá, frigideira de siri, moqueca (capixaba e baiana), arroz de pato. Tem ainda vitela assada; codornas assadas; carré de cordeiro, medalhões de filé e “tournedos de filé”, com molho de mostarda, pimenta, castanha de caju com gengibre….”
Lembrei com tudo isso que tem um atum vendido no mercado aqui perto de casa que se chama Gomes alguma coisa. A família Gomes, pelo visto, é fera no ramo de peixes…Bom, fica aí uma ótima dica de atum aos leitorxs.
O caráter exclusivamente PÚBLICO desse dinheiro reclama, em si, um dever de uso ético, que necessariamente transforma a lagosta em bife. Ou frango, caso você seja mais de frango. Mas lagosta? L A G O S T A cara pálida? Vai na frente da TV ou faz um vídeo aí explicando porque você precisa comer lagosta e vinho com quatro estrelinhas, meu nobre ladrão engravatado da jurisdição. Isso serve para todos vocês. Os 11 e quem mais participa dos banquetes, mais o Ministério das Relações Exteriores e outros aos quais o mesmo menu se aplique. Expliquem-se. Responsabilidade política de quem tem função pública é explicar por que lagosta sim e bife não.
Eis minha sugestão de alteração desse edital: arroz, feijão, batata frita, bife e salada. Ou frango, caso algum ministro seja mais do frango. Afinal, se o chef do STF maneja bem os carrés, as codornas e os tournedos (…o que é isso afinal?), é impossível que não consiga fazer um baita feijão pra essa gente, daqueles bem temperados e sem caldo aguado.
Mas o pior desse edital, de longe, é o item dos vinhos. Só serão aceitos vinhos com, pelo menos, 4 premiações internacionais. Você não leu errado. É isso mesmo. Nada desses vinhos que vendem no mercado para os reles mortais.
Gente, sinceramente, é inaceitável esse negócio. Sugiro criar uma caravana com paus, pedras e coquetel molotov. Fretar ônibus com gente incendiária. Mega fone e o escambau. Fazer a MARCHA ANTI LAGOSTA em direção à Brasília e impedir a compra desse menu para os semi-deuses da jurisdição.
Por fim 1: parem com esse colonialismo vira-lata de “brunch” e estrelinhas internacionais. Aqui temos L A N C H E. E vinho bom. A serra gaúcha que o diga.
Por fim 2: sugiro que se crie na entrada do STF a LANCHONETE DO STF, com cadeiras de plástico, sinuca, TV com pacote do Brasileirão e cerveja a preço popular.
PAULO FERRAREZE FILHO é professor universitário e psicanalista em formação
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