por Felipe Eduardo Lázaro Braga

Bolsonaro é ruim, mas tão ruim, que tirar Bolsonaro do poder pode parecer uma pauta eleitoral suficientemente persuasiva, a ponto de ser única.
Embora tirar Bolsonaro do poder seja urgente – não há avanço possível sem que Bolsonaro pare de atrapalhar o país –, tirá-lo do poder não passa nem perto de ser suficiente, se o critério de sucesso de uma eleição é fazer aprovar um projeto de país.
Uma personalidade carismática, se populista, não tem nada a oferecer ao escrutínio público senão a própria personalidade. Contrapor o vazio personalista de Bolsonaro a um projeto ambicioso de país que demonstre, por contraste, a escassez de futuro que o bolsonarismo representa, significa tratar o eleitor como adulto.
Mas existe uma polarização à vista nas eleição de 2022, e não é exatamente a polarização entre Lula e Bolsonaro, mas a polarização entre “Anti-PT” e “Ele Não”.
Em 2018, Bolsonaro venceu a eleição sem propor nada, a não ser impedir o Partido dos Trabalhadores de voltar à Presidência. Se a pauta progressista de 2022 emular a de 2018, 2022 será, na esteira do “Fora, Bolsonaro!” e “Ele não”, uma revanche, um desagravo da última eleição presidencial.
Se formos incapazes de superar a estatura do atual presidente, que conseguiu, com bastante sucesso, amarrar o debate brasileiro ao estreito de sua personalidade, estamos prestes a protagonizar o debate de uma eleição pequena.
O Brasil poderia ser o lugar certo. Centro sustentável do mundo com fundos bilionários, estatais e privados, prontos para aportar no país mais verde do planeta. Capacidade eólica, fotovoltaica, marítima, fluvial, pluviométrica. Temos tudo o que é necessário para liderar a revolução comportamental e tecnológica do século 21, do século que deveria ser Verde. Pauta tão urgente que é capaz de aglutinar os melhores esforços de europeus, norte-americanos e chineses (o mais próximo de uma conflagração na China comunista é a sua classe-média urbana reclamando da poluição do ar). Estar do lado de EUA e China no melhor interesse do Brasil é entender quais são os desafios e inserções estratégicas da geopolítica contemporânea; se o Brasil propuser e liderar um modelo de enriquecimento sustentável, baseado no melhor empenho da academia nacional e internacional, há capitalismo e social-democracia nórdica interessados em financiar o começo desse longo-prazo. Precisamos, portanto, de uma liderança com proposição ambiciosa, que consiga deslocar a pauta do debate para a órbita dos grandes temas (coisa absolutamente contrária à natureza do líder populista, que só consegue responder à conjuntura de curto-prazo e à volatilidade da opinião difusa).
O tema da sustentabilidade, porém, não pode ser empenho exclusivo da “intelectualidade-pop-esquerdizante-uspiana”, na fórmula de Marcelo Rubens Paiva. Tem que ser uma utopia de justiça social e enriquecimento nos termos históricos adequados ao nosso século, sensível às aspirações de progresso e consumo da nossa população. Sustentabilidade é uma obrigação moral, no enorme pacto intergeracional a que temos obrigação de honrar, mas é também uma resposta aos nossos interesses materiais. Não dá mais para copiar o modelo de enriquecimento propulsionado à combustão, lento e ineficiente como o passado.
O Brasil é candidato a liderar o novo modelo de enriquecimento, numa conciliação de país com o país que almejamos ser. O Brasil pode ser o primeiro país da História a atingir um padrão de renda média (como Portugal, Uruguai ou Chile) através de políticas públicas sustentáveis. Para isso não basta que o Brasil adote políticas públicas sustentáveis, mas que o Brasil as adote primeiro, isto é, que o país crie as soluções de transição energética voltadas especificamente para o mundo tropical, com características geográficas, climáticas e econômicas radicalmente diferentes das do mundo temperado (na Noruega, a discussão sobre sustentabilidade pode passar ao largo da distribuição de renda; no Brasil, não).
O patrimônio ecológico brasileiro já participa do imaginário nacional nos melhores termos de identidade e autoestima, a começar pela bandeira que, não obstante opinião contrária, é verde-floresta, e não verde-fascista; jamais será vermelha, na exata medida em que já é vermelha a árvore que dá nome ao país. No atual ambiente de polarização ideológica, que tanto beneficiou o surgimento de líderes populistas especializados em agredir e provocar, as frações moderadas da população, à esquerda e à direita, podem construir um fato político novo que, do ponto de vista populista, é francamente devastador: o da conciliação ecológica, a unir desenvolvimento sustentável e distribuição de renda em um mesmo compromisso de urgência.
Todas essas urgentes questões, estão no projeto de Ciro Gomes, desenhado para quem quiser ler em seu Projeto Nacional: o dever da esperança (Ed. Leya), e ir além dos memes e das bravatas rasas da polarização.
FELIPE EDUARDO LÁZARO BRAGA é doutorando em Sociologia (FFLCH-USP)
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Nem na época da Ditadura de Getúlio Vargas o Brasil esteve como atualmente: Na minha juventude ouvi de outro Governo, me parece militar também: “Em se plantando, tudo dá”, depois começamos a importar trigo e chegamos a importar fertilizantes!!! Nem Zélia imaginaria que Guedes a teria como icone: com tantos reajustes de preços e Desvalorização cambial, sem reajuste salarial, logo chegaremos ao poder aquisitivo de (R)$ 50 (nivelamento adotado por Zélia)! Não duvidamos que os $50, da época dela, valha mais que na moeda atual! Num País com tanta área agrícola e população bovina em maior quantidade que a humana, 1/3 dos brasileiros passando pelo flagelo da fome, beira o surrealismo!
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