por Bisan Akil

“Existe um orgulho doméstico em avançar com o freio de mão puxado, como se isso fosse útil, agradável ou sexy. Um gozo servil em relação à ideia de servir como trampolim. Nosso poder nos envergonha. Estamos sempre vigiadas pelos homens, que continuam a se meter em nossas coisas para nos dizer o que nos convém ou não, e sobretudo somos vigiadas por outras mulheres, através da família, das revistas femininas e do discurso dominante. É necessário minar esse nosso poder, nunca valorizado EM UMA MULHER: “competente” ainda quer dizer “masculina”.”
Teoria King Kong, Virginie Despentes
Quando Virginie Despentes escreveu esse livro, com certeza não estava interessada em manter o freio de mão puxado em relação ao seu próprio poder. Pelo contrário, colocou o pé no acelerador para tentar atropelar toda estrutura que pudesse colocar o que dizia respeito aos estereótipos femininos abaixo.
Tornar-se mulher é uma travessia sem fim e um trabalho constante. Percebo o quanto meu corpo de mulher, dentro de alguns contextos, ainda é um obstáculo. Por isso algumas de nós, nesses contextos desfavoráveis, introjetamos traços masculinos em nome da adaptação. Essas necessidades justificam o fato de que expressões como “botar o pau na mesa” tenham que ser usadas mesmo por quem nem tem e nem quer ter um pau.
O que percebo é que nos encontramos em um lugar não legítimo, como se o corpo de mulher fosse um obstáculo para chegar a lugares apenas ocupados por homens.
Assim é que, sem os mesmos direitos e espaços, parece que tenho que pagar um alto preço por ter o corpo que tenho, ou por querer estar em um espaço que outrora era destinado somente ao corpo que não possuo. Há sempre a sensação de que nada do que faço pode ser sustentado se não for diretamente atravessado por algum traço viril.
É como se a mulher, para tomar uma decisão ou para dizer algo que ecoe, precise sempre desse artificioso “pau na mesa”: engrossar a voz, ser imponente, ser competitiva, ser hostil etc.
Mas se eu não luto pela diferença, eu me confundo com o outro e acabo por fazer parte de uma existência que aliena meu ser-mulher.
Só que não quero desaparecer enquanto mulher. Não quero usar esse aparato ideológico masculinizante para ter minha existência legitimada. Será que não há outras possibilidades se tornar visível sem ter que ser masculinizada?
Se me graduo e venho a me tornar mestra e doutora, com talentos e predicados profissionais, percebo que o ser-mulher se antecipa a tudo isso, como se tivesse que vencer, além de todas essas etapas, também minha própria condição, já que a competência ainda nos remete ao masculino.
Será que não posso ser boa profissional sem colocar meu gênero antes de minhas credenciais? Se sou bonita, gostosa e se cozinho bem, como isso ainda entra nesse jogo? Ainda fazemos associações diante de características que deveriam apenas soar como humanas, mas nos remetem instantaneamente a um dos dois gêneros.
O que é paradoxal é que nunca se falou tanto em liberdade intelectual e corporal feminina. Mas nunca também nos sentimos tão submetidas ao rigor da estética: bocas, peitos, narizes ou olhos, tudo artificialmente simétricos. É como se ficasse dito nas entrelinhas: “Olha só! Estamos livres mas não tanto, não se assustem conosco!”. Tranquilizando-os, acabamos por nos tranquilizar, afinal, não queremos assustar ninguém. Como diz Virginie, “o acesso aos poderes tradicionalmente masculinos se mistura ao medo da punição”.
Eu não sou feminista por querer ser igual a um homem, nem para odiá-lo. Sou feminista para me reconhecer e ser reconhecida pela diferença. Quero amar para além das relações funcionais de mãe, esposa e dona de casa. Quero que minha liberdade sexual não precise estar tutelada por um casamento, mas apenas pelos meus desejos enquanto mulher, sem que com isso fique ecoando uma dívida com a natureza caso eu não tenha filhos, e com a sociedade caso eu não venha a casar-me.
Eu desejo e luto para que meus direitos sejam reconhecidos também no meu desejo, e não só na minha força. Anseio pelo dia em que, sem esforço, serei legitimada na minha diferença.
BISAN AKIL é psicóloga
Categorias:ARTIGOS
Essa pessoa q escreveu isso eh preguiçosa, essa expressão “botar o pau na mesa” veio da escravidão qnd o chefe usava um pedaço de pau pra castigar os escravos e essa expressão era pra expressar qm eh q manda. Escravidao e racismo q sao assuntos muito mais relevantes q o feminismo chato. Eu ate acho q existe desigualdades, mas eh mto mais moderado do q se apresenta. Se nao ta satisfeita na sociedade q vive, procure alguma q se encaixe melhor. Simples assim.
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