ARTIGOS

Lugar de merda é no lixo

por José Ernani Almeida

Em 2016 o impeachment de Dilma foi justificado pelas “pedaladas fiscais”. Dilma tinha como objetivo encontrar espaço para investir mais recursos públicos, coisa que, desde Vargas, todos os presidentes o fizeram sem problemas. Na verdade, sabemos a razão: a direita derrotada pela quarta vez consecutiva, apelou para um descarado golpe.

Agora, o presidente da Câmara tem sobre sua mesa mais de trinta(!!!), sim, mais de trinta pedidos de impeachment contra Bolsonaro, todos baseados em fatos muito mais graves do que o que levou a cassação da ex-presidente.

Bolsonaro é acusado de crimes de responsabilidade e quebra de decoro em série, como atacar jornalistas e governadores, sabotar o Ministério da Saúde no combate ao coronavírus e participar de protestos que pregaram o golpe militar e a volta da ditadura, sabotar a Polícia Federal e crime de falsidade ideológica. Ulala!!!

O presidente ao fazer discursos contra o isolamento, estimula a desobediência a uma ordem legal. Ele atenta contra o direito à vida e à saúde, algo extremamente grave. Ao comentar o espantoso número de mortes responde com um patético, desumano e inacreditável, “e daí?”.

O “e daí?” revela o que o sociólogo franco-brasileiro Michel Lowy chama de traços de social-darwinismo (típico do fascismo): a sobrevivência dos mais fortes.Se milhares de pessoas vulneráveis vierem a falecer, é o preço a pagar, afinal, “o Brasil não pode parar!”.

Portanto, existem motivos de sobra para a abertura do processo de cassação do mandato do ex-capitão. Entretanto, como alertam analistas políticos, o seu afastamento dependeria basicamente de iniciativas institucionais, ou seja, de investigações criminais, judiciais e legislativas, não da mobilização popular contra seus desmandos.

Mais. Bolsonaro, asseveram, tem ao seu lado o Partido Militar, por baixo um contingente de um milhão de homens na ativa e na reserva em ativista ininterrupto e frenético para “salvar o Brasil” do comunismo e reforçar seus soldos.

Aí é o caso de se perguntar: é isso que os militares querem? Sustentar um incapaz, com apoio popular em queda, na hora que mais precisamos de uma liderança qualificada e respeitável? Dar-lhe mais poderes para transformá-lo em um ditador abestalhado?

A própria oposição – aliás , cadê a oposição ? – vê com reservas o impeachment pois poderia tornar Bolsonaro uma vítima; a crise da pandemia neste momento deve ser a prioridade; protestos de rua estão descartados, diante do isolamento social; o vice Mourão é uma incógnita. Lembra de Castelo Branco que em 1964 prometeu devolver o poder aos civis em um ano. Ficou dois no poder e iniciou uma ditadura de 21 anos.

Aponta também para um aforismo atribuído a Napoleão Bonaparte, segundo o qual, “nunca interrompa o inimigo quando ele estiver cometendo um erro”.

Assim, ao que tudo indica, vamos ter que suportar sermos governados por um débil mental que com suas atitudes mata e mata muito. “E daí?”. Espero que nunca mais votemos num.

JOSÉ ERNANI ALMEIDA é professor de história do Brasil e especialista em história pela UPF/RS

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