ARTIGOS

Minha prostituição empoderada

por Cláudia de Marchi

Quando eu era “só” uma advogada, professora universitária e cronista me queriam mansa. Queriam que eu aceitasse flertes de homens casados e poderosos, afinal, se eu estava solteira “que mal teria” ceder às investidas dos “figurões”, não é?

 Ora, eu poderia crescer muito na carreira se o fizesse! Mas nunca quis!
“Quê mal teria” ficar quieta diante de desrespeito ou perdoar mentiras e omissões para manter um casamento ou uma relação amorosa qualquer?

Depois que me tornei acompanhante de luxo, eles me querem mais complacente e maleável, menos “ativista” e mais calada, sem expressar opiniões sobre assuntos polêmicos.

Querem que eu mostre o meu “valor” em fotos sensuais, quase explícitas, em minhas redes sociais, pois, para eles, o valor de uma mulher está no corpo que ela expõe, não no cérebro e no letramento que ela tem. Ademais, se as “não-prostitutas” o fazem, creem que eu deveria, obrigatoriamente, fazer também.

Mas eu sou resistência, eu sou luta, eu sou guerreira: nunca serei o que querem que eu seja! “Ora, Cláudia, mas quem são ‘eles’, afinal?”

Em síntese, eles são o resultado do patriarcado. O patriarcado também tem seus “agentes infiltrados, quais sejam, as mulheres reprodutoras do machismo e as anti-feministas em geral.

Agora que sou acompanhante de luxo ouço corriqueiramente elogios sinceros como: “É gostosa demais para ser ‘só’ advogada.” Nada pode ser mais transparente do que a relação entre uma cortesã e seu parceiro sexual! Ele não precisa fingir que se importa com seu “currículo lattes” e você não precisa fazer de conta que nunca transou num primeiro encontro.

Logo, é ali, no quarto com um homem que paga para estar junto comigo, que as maiores verdades são ditas. Ali a máscara do patriarcado cai e eu dou o que sempre quiseram que eu “desse” facilmente. “Dou”, mas cobro.

A “prostituição” empoderada que pratico, em que mando e comando, foi o meu “tapa de luvas de pelica” no mainstream patriarcal que não admitia que uma mulher atraente, advogada e de família simples pudesse ter voz. Seja dizendo “não, eu não quero você” ou “não, eu não preciso de um homem”.

Enfim, o patriarcado não quer mulheres pensantes e ativas. O patriarcado não quer mulheres que lhes diga “não”, que questione as suas posições, que não precise e não queira os seus conselhos e a sua “ajuda” sempre tão superestimada. O patriarcado não quer que as mulheres tenham voz, que exercitem a sua voz. Ele as quer caladas, sejam elas putas ou não. 
Eu? Vou morrer gritando e batendo de frente com todos eles.

CLÁUDIA DE MARCHI é acompanhante de luxo e escritora

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